Após anos de investigação, uma nova descoberta sobre a doença de Parkinson pode ajudar a desenvolver novos medicamentos para tratar, ou travar o avanço, pelo menos, da doença neurodegenerativa. Publicado na revista Science, um estudo realizado por uma equipa de investigadores do Instituto Walter and Eliza Hall, do Centro para Investigação da Doença de Parkinson, na Austrália, observou, pela primeira vez, o funcionamento da PINK1 – uma proteína ligada às mitocôndrias – que é, há décadas, associada à doença. Apesar de conhecida, a proteína nunca tinha sido observada e a forma como se ligava às mitocôndrias ou era ativada ainda não era compreendida pela Ciência.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Neurologia, estima-se que a doença de Parkinson afete entre 18 e 20 mil pessoas em Portugal, sendo a doença neurodegenerativa mais comum após a Alzheimer. Com cerca de 40 sintomas – motores e não motores – a doença de Parkinson provoca, por norma, perturbações cognitivas, problemas de fala, tremores, bradicinesia – lentidão dos movimentos voluntários – e rigidez, podendo levar anos até ser diagnosticada. Atualmente não existe uma cura para a doença, e o seu tratamento baseia-se no controlo dos sintomas, através de fisioterapia ou cirurgia.
Em qualquer ser vivo, as mitocôndrias são as responsáveis por produzir a energia necessária às células e cada célula pode conter centenas ou até milhares de mitocôndrias. Já a proteína PINK1 – codificada pelo gene PARK6 – atua ao nível da sobrevivência das células, ao identificar as mitocôndrias danificadas e alertar o organismo para a sua remoção – um processo designado por mitofagia. De acordo com as observações da equipa liderada pela especialista em bioquímica mitocondrial Sylvie Callegari, a forma como a proteína PINK1 é ativada e como se liga às mitocôndrias é realizada através de quatro etapas distintas, duas das quais nunca tinham sido observadas. “Esta é a primeira vez que vemos a PINK1 humana ligada à superfície de mitocôndrias danificadas e descobrimos um conjunto notável de proteínas que atuam como ligação. Vimos também, pela primeira vez, como as mutações presentes nas pessoas com doença de Parkinson afetam a PINK1 humana”, explicou Callegari.
Em pessoas saudáveis, quando uma mitocôndria está danificada, a PINK1 junta-se às membranas mitocondriais e – com recurso a outra proteína mais pequena, a ubiquitina – sinaliza ao organismo que a mesma deve ser removida. Contudo, quando a PINK1 sofre uma mutação, as mitocôndrias danificadas acumulam-se nas células, parando de produzir energia e libertando toxinas. Deste modo, numa pessoa com Parkinson e mutação da proteína PINK1, o processo de mitofagia não funciona e as toxinas que se acumulam na célula acabam por eventualmente, resultar na sua morte.
Ao compreender como a proteína é ativada, a Ciência abre caminho para se perceber como pode ser manipulada de forma a abrandar a progressão da doença. Os investigadores acreditam que as suas conclusões possam ser utilizadas na busca por um medicamento que ajude a retardar ou até mesmo parar progressão de Parkinson em pessoas com uma mutação na PINK1. “Este conhecimento abre caminhos futuros para uma melhor conceção de medicamentos e para a descoberta de um tratamento que possa abrandar ou mesmo parar a progressão da doença de Parkinson”, referiu Becky Jones, do centro de investigação para a Parkinson do Reino Unido.