Nos últimos dias tem-se verificado um aumento de casos de Mpox, uma doença viral, transmitida de animais para humanos. O aumento dos casos registados da doença e o surgimento de uma nova estirpe, a “clade 1b” mais perigosa e contagiosa levou a OMS, na passada quarta-feira, a declarar a doença uma emergência de saúde internacional. Mas o que é esta doença – que entretanto já chegou à Europa – e como se manifesta? Neste artigo, a VISÃO responde a todas as perguntas que possa ter sobre a Mpox.
O que é a mpox?
É uma doença zoonótica, ou seja, transmitida dos animais para os seres humanos. Geralmente, a grande maioria dos casos registados encontra-se perto de zonas de florestas tropicais, onde existem animais portadores do vírus – como arganazes, diferentes espécies de macacos ou na espécie de ratos-gigante-africano, o que justifica a designação inicial de “varíola dos macacos” ou “monkeypox”. Apesar de partir dos animais, esta pode também ser transmitida entre humanos através de contacto físico próximo. Sendo uma doença viral, provoca sintomas como febre, dores de cabeça, dores musculares e lesões na pele ou mucosas que se assemelham a borbulhas ou bolhas.
Então, Mpox, monkeypox e varíola dos macacos são a mesma coisa?
Sim.
Porque passou a chamar-se Mpox?
A Organização Mundial da Saúde decidiu alterar a designação oficial da doença decisão para evitar a utilização de “linguagem racista e estigmatizante” associada ao nome do vírus após o último surto, em 2022 . “Quando o surto de varíola dos macacos se expandiu no início deste ano [2022], foi observada e comunicada à OMS linguagem racista e estigmatizante, noutros contextos e em algumas comunidades. Em várias reuniões, públicas e privadas, vários indivíduos e países manifestaram a sua preocupação e pediram à OMS que propusesse uma forma de alterar o nome”, pode ler-se num comunicado emitido pela OMS.
“A OMS adoptará o termo Mpox nas suas comunicações e incentiva outros a seguirem estas recomendações, para minimizar qualquer impacto negativo contínuo do nome atual e da adoção do novo nome”, continua a nota.
Quando foi detetado o primeiro caso?
Identificada pela primeira vez em 1970, na atual República Democrática do Congo, a doença espalhou-se inicialmente apenas por países da África Ocidental e Central tendo provocado, posteriormente, surtos menores nos Estados Unidos e no Reino Unido, ainda durante o século XX. O pior surto da doença ocorreu em 2022, tendo atingido quase 100 mil pessoas a nível global.
Pode ser grave?
Segundo o Portal Europeu de Informação sobre Vacinação, a maioria das pessoas que contrai a doença recupera sem nenhuma complicação. Contudo, em algumas pessoas – sobretudo as que integram grupos de risco – a doença pode manifestar-se de forma mais grave e resultar em infeções bacterianas na pele e nos pulmões, levando à necessidade de hospitalização.
Pode ser fatal?
Sim. O surto de 2022, por exemplo, o tal que atingiu os quase 100 mil casos, levou à morte de 200 pessoas em todo o mundo. Já a estirpe atual, mais mortal e contagiosa, provocou, desde o início do ano, 548 mortos.
Porque é que a nova variante é mais perigosa?
A nova estirpe, a “clade 1b”, detetada em setembro do ano passado na República Democrática do Congo, é mais mortal e transmite-se mais facilmente através do contacto próximo entre duas pessoas. É também mais difícil de identificar uma vez que, para além de lesões no peito, mãos e pés, tem também provocado lesões nos genitais.
Como é feita a transmissão?
A doença transmite-se através do contacto próximo com pessoas infetadas, seja este sexual ou não. Segundo a DGS, a transmissão humana do vírus ocorre através do contacto de “pele não íntegra” – ou seja, de pequenas lesões da pele – e das “mucosas ocular, nasal, oral, genital e anal”. Geralmente, verifica-se a transmissão através do contacto próximo e direto com a pessoa infetada ou com objetos – incluindo vestuário, roupas de cama, utensílios ou objetos de uso pessoal- contaminados.
Quais são os principais sintomas?
A doença manifesta-se através do aparecimento de lesões na pele ou mucosas, queixas anogenitais, febre, dores de cabeça, cansaço ou dores musculares. O sintoma mais conhecido da doença são as lesões na pele, que começam por se apresentar como manchas na pele que vão adquirindo relevo e, progressivamente, se vão transformando em úlceras e crostas na pele que acabam por cair. Estas lesões cutâneas podem ser localizadas numa determinada região do corpo – como a face, braços e pernas – ou estar generalizadas. O número de lesões varia consoante a pessoa. Estes sintomas, normalmente, duram de duas a quatro semanas.
Já foram registados casos da nova variante em Portugal?
Não. Segundo a Direção-Geral da Saúde nenhum dos casos de Mpox registados em Portugal pertence à variante mais perigosa e contagiosa da doença, a clade I. “Todos os casos reportados em Portugal são da clade I IIb do vírus monkeypox, não tendo sido identificado nenhum caso pela clade I”, explicou a DGS em declarações à agência Lusa, esta sexta-feira.
Contudo, entre junho do ano passado e 31 de julho de 2024, em Portugal, foram registados 244 casos, dos quais três foram detetados entre maio e julho deste ano. A autoridade de saúde portuguesa alertou para a necessidade de diagnóstico precoce e de mecanismos de prevenção e controlo, de forma a reduzir as cadeias de transmissão à medida que vão surgindo novos casos. A DGS recomendou ainda a vacinação da população com maior risco de infeção. Entre 16 de julho de 2022 – data de início da disponibilidade de vacinas – e 31 de julho deste ano já foram vacinadas mais de 9 mil pessoas.
O que fazer caso contraia a doença?
Caso suspeite que tenha contraído a doença deverá (após informar a DGS):
- Permanecer em isolamento domiciliar e distanciamento físico até à queda das crostas ou exclusão da infeção.
- Evitar contactos físicos próximos, de pele-com-pele, até à queda das crostas.
- Não permanecer no mesmo espaço que crianças pequenas, grávidas e pessoas imunodeprimidas.
- Lavar e higienizar frequentemente as mãos.
- Não partilhar objetos e utensílios de uso pessoal.
- Lavar todo o vestuário e têxteis com água quente e detergentes habituais.
- Limpar todas as superfícies com detergentes com cloro.
- Alertar os seus contactos próximos desde o início dos sintomas, de forma a evitar a cadeia de transmissão.
- Evitar o contacto próximo com animais domésticos.
Quem está em risco de contrair a doença?
Qualquer pessoa que tenha estado em contacto próximo e direto – incluindo mas não só sexual – com alguém que tenha Mpox corre o risco de contrair o vírus. Da mesma forma, o contacto com, por exemplo, vestuário ou objetos e superfícies que tenham sido tocadas por alguém portador da doença pode também levar à transmissão de monkeypox.
Pessoas que possuem um sistema imunitário mais fraco – devido a problemas de saúde, determinados medicamentos ou tratamentos – podem também estar mais suscetíveis à doença. Do mesmo modo, coabitantes de uma pessoa infetada, cuidadores ou profissionais de saúde encontram-se também mais expostos.
Existe vacina ?
Sim, existe. Atualmente encontram-se elegíveis para vacinação os grupos com risco acrescido por infeção humana pelo vírus e pessoas que tenham tido contacto próximo com um caso confirmado de infeção.
Segundo a DGS, entre 16 de julho de 2022 – data de início da disponibilidade de vacinas – e 31 de julho deste ano já foram vacinadas mais de 9 mil pessoas.