Um recente estudo publicado na revista científica European Heart Journal revelou que o xilitol – um adoçante muito utilizado em produtos como as pastilhas elásticas e as pastas dos dentes – pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e AVC. Desenvolvida por uma equipa de investigadores do Centro de Diagnóstico e Prevenção Cardiovascular do Instituto de Investigação Médica de Cleveland, nos Estados Unidos, a investigação tinha por objetivo determinar que substâncias e compostos químicos presentes no sangue da amostra analisada representavam maiores riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. As conclusões do estudo mostraram que a ingestão deste adoçante, de baixas calorias, pode resultar num aumento até duas vezes superior do risco de AVC e doenças cardíacas, e até, quando ingerido em excesso, culminar na morte do consumidor.
Para o estudo foram analisadas mais de mil amostras de sangue e analisados os efeitos do consumo de xilitol para o seu organismo. “Demos a voluntários saudáveis uma bebida típica com xilitol para ver até que ponto os níveis chegariam e eles aumentaram 1000 vezes. Quando se come açúcar, o nível de glicose pode aumentar 10% ou 20%, mas não aumenta mil vezes”, explicou Stanley Hazen, um dos autores do estudo num comunicado feito pelo Instituto.
A investigação revelou que o excesso deste adoçante no sangue resulta no aumento da rapidez do processo de coagulação do sangue, o que poderá resultar na formação de coágulos, responsáveis pelos ataques cardíacos e AVC. “Existe um recetor nas nossas plaquetas, que ainda não compreendemos, que reconhece esta molécula e sinaliza para as plaquetas para que sejam mais propensas a coagular. As nossas papilas gustativas não conseguem distinguir as estruturas entre o açúcar e os outros edulcorantes, mas as nossas plaquetas conseguem”, referiu Hazen.
Para além dos efeitos negativos que o xilitol possui para o organismo, os investigadores identificaram também que um outro adoçante – eritritol – que representa semelhantes riscos para o sistema cardiovascular. O mesmo grupo de investigadores já tinha estado envolvido num estudo de natureza semelhante – publicado em 2023 – que associava a utilização de eritritol com estas patologias. Publicada em fevereiro do ano passado, esta investigação científica revelou que o risco de ataque cardíaco e de acidentes vasculares cerebrais duplicava em pessoas com níveis elevados de eritritol no sangue.
O que é o xilitol?
O xilitol, semelhante ao açúcar, é um adoçante de baixas calorias muito utilizado na produção de pastilhas elásticas sem açúcar, pasta de dentes, elixires e xaropes bem como em alimentos que incluem os bolos de pastelaria, molhos – como ketchup –, manteiga de amendoim, pudins e outros.
Este adoçante encontra-se ainda de forma natural em alimentos como a couve-flor, beringela, alface, cogumelos, espinafres, ameixas, framboesas e morangos. Contudo, a quantidade presente nestes alimentos não deverá ser suficiente para provocar qualquer efeito negativo no sistema cardiovascular. “Se fizermos o cálculo, é preciso literalmente uma tonelagem de fruta para ser equivalente a uma bolacha para diabéticos que pode ter nove gramas de xilitol, que é uma quantidade típica do rótulo”, explicou Hazen.
Vendido como um adoçante natural, o xilitol não aumenta, contudo, os níveis de açúcar no sangue, pelo que muitas associações profissionais recomendam a utilização destas substâncias como substituta ao açúcar em pessoas com obesidade, diabetes ou pré-diabetes de forma a controlar os níveis glicémicos. “No entanto, as pessoas com risco de diabetes estão entre as mais vulneráveis a eventos de coagulação. Estamos a visar as pessoas erradas”, referiu Hazen.