Cientistas testaram 23 testículos de humanos e 47 de cães e encontraram microplásticos, pequenas partículas de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, em todas as amostras.
Os testículos analisados pertenciam a homens com idades entre os 16 e os 88 anos e foram obtidos a partir de autópsias realizadas em 2016. Já os dos cães foram obtidos em clínicas veterinárias que tinham realizado operações de esterilização aos animais.
Para a realização da análise, a equipa dissolveu as amostras de tecido e analisou o plástico remanescente. Segundo a equipa do estudo, publicado na revista Toxicological Sciences, esta descoberta pode estar relacionada com a diminuição da contagem de espermatozoides nos homens que tem sido registada nas últimas décadas.
Em 2022, uma análise alertava para o facto de a contagem de espermatozoides estar a diminuir cada vez mais, descobrindo que a contagem média de espermatozoides diminuiu, globalmente, 51,6% entre 1973 e 2018. Desde 1972, o declínio era de cerca de 1% ao ano, mas, desde 2000, o decréscimo anual tinha sido, em média, superior a 2,6%.
Shanna Swan, da Escola de Medicina Icahn, em Nova Iorque, relatou, no mesmo estudo, que o declínio tem sido demasiado rápido para ser explicado apenas por causas genéticas: fatores de estilo de vida, como dieta, tabagismo, obesidade, stresse e consumo excessivo de álcool podem ajudar a explicar o fenómeno, mas a investigadora destacou o papel dos produtos químicos ambientais, particularmente aqueles com a capacidade de afetar as hormonas essenciais para a reprodução.
No estudo mais recente, os investigadores deram conta de que os testículos humanos apresentavam uma concentração de plástico quase três vezes superior à encontrada nos testículos dos cães – 330 microgramas por grama de tecido, em comparação com 123 microgramas encontrados nos cães.
Xiaozhong Yu, da Universidade do Novo México, nos EUA, diz, citado pelo The Guardian, que “no início”, duvidou de “que os microplásticos pudessem penetrar no sistema reprodutor”. “Quando recebi pela primeira vez os resultados relativos aos cães, fiquei surpreendido. Fiquei ainda mais surpreendido quando recebi os resultados relativos aos humanos”, refere ainda.
Além disso, o polietileno, utilizado, por exemplo, em sacos e garrafas de plástico, foi o microplástico mais comum encontrado, seguido do PVC. A equipa deu conta de que a contagem de espermatozóides nos testículos dos cães era mais baixa nas amostras com maior contaminação de PVC (um plástico muito utilizado devido à sua versatilidade, durabilidade e baixo custo, que pode tornar-se um microplástico secundário ao longo da sua degradação ambiental). Em relação aos humanos, não foi possível fazer a contagem do número de espermatozóides.
“O PVC pode libertar muitos produtos químicos que interferem com a espermatogénese e contém produtos químicos que causam perturbações endócrinas”, afirma o investigador, acrescentando que “o impacto na geração mais jovem pode ser mais preocupante”.
O estudo demonstra uma possível correlação entre a concentração de microplásticos e a diminuição da contagem de espermatozóides, mas é necessária mais investigação para provar que uma coisa leva à outra, afirmam os investigadores.
Partículas de microplástico já tinham sido encontradas em diversos órgãos do corpo humano como os pulmões, cérebro, na placenta de mulheres grávidas, e até no sangue.