Os suplementos à base de óleo de peixe, onde está incluído o popular óleo de fígado de bacalhau, são indicado há décadas devido aos seus conhecidos benefícios relacionados, por exemplo, com a saúde cardíaca e o fortalecimento dos ossos.
Os seus efeitos benéficos advêm, principalmente, de um ingrediente: os ácidos gordos ómega 3, com ação antioxidante e anti-inflamatória, que ajudam também no alívio dos sintomas de depressão e ansiedade.
Um novo estudo concluiu, no entanto, que o consumo regular dos suplementos à base de óleo de peixe pode aumentar, e não reduzir, o risco de um primeiro Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de fibrilhação auricular (um tipo de arritmia cardíaca caraterizada por batimentos cardíacos muito irregulares e rápidos) em pessoas sem problemas cardíacos.
“O uso regular de suplementos de óleo de peixe pode ter diferentes papéis na progressão da doença cardiovascular”, escreveram os autores do estudo, publicado na revista BMJ Medicine.
Os investigadores analisaram, ao longo de uma média de 12 anos, dados de mais de 400 mil pessoas entre os 40 e os 69 anos, retirados do UK Biobank, um grande banco de dados biológicos do Reino Unido, sendo que cerca de um terço dos participantes consumiam regularmente suplementos de óleo de peixe.
As conclusões do estudo foram que o consumo regular de suplementos de óleo de peixe foi associado a um risco 13% superior de os participantes sem qualquer problema cardíaco desenvolverem fibrilhação auricular e a um risco 5% superior de sofrerem um AVC.
Contudo, os investigadores acrescentaram que os participantes que sofriam de doenças cardiovasculares no início do estudo e consumiam regularmente suplementos de óleo de peixe tinham um risco 15% menor de a fibrilhação auricular evoluir para um ataque cardíaco e um risco 9% inferior de a insuficiência cardíaca provocar morte.
Além disso, a equipa notou que o risco de transição de uma boa saúde para a ocorrência de um evento como um ataque cardíaco, AVC ou insuficiência cardíaca foi 6% superior entre as mulheres que consumiam suplementos de óleo de peixe, e também 6% superior entre os não fumadores.
Os investigadores notaram ainda que o efeito protetor do óleo de peixe na transição de um bom estado de saúde para a morte foi maior nos homens e nos participantes mais velhos.
Mas apesar dos resultados, a equipa refere que “são necessários mais estudos para determinar os mecanismos precisos para o desenvolvimento e prognóstico de eventos de doenças cardiovasculares com o uso regular de suplementos de óleo de peixe”.
“Embora este estudo tenha sido realizado numa grande população, foi de natureza observacional, com potenciais fatores de confusão e sem ter em consideração a dose”, diz, por seu lado, em entrevista ao Medical News Today, Elana Natker, diretora de comunicação da Global Organization for EPA and DHA Omega-3s, que não esteve envolvida no estudo.
Apesar disso, Natker acredita que o estudo é “muito interessante e os resultados merecem ser mais explorados”, apesar de continuar a “recomendar que os doentes consumam pelo menos 500 mg [de] ómega-3 por dia, quer ingerindo peixe gordo, que tomando um suplemento de ómega-3, ou então combinando os dois”.
“Meta-análises de ensaios clínicos em humanos encontraram reduções estatisticamente significativas no ataque cardíaco e morte por ataque cardíaco e doença cardíaca coronária”, acrescenta ainda.
Os suplementos de óleo de peixe, em geral, são feitos a partir dos tecidos de peixes gordurosos, como salmão, cavala e sardinha, e são valorizados principalmente pelo seu conteúdo de ómega 3. O óleo de fígado de bacalhau, por sua vez, tem o benefício adicional das vitaminas A e D.