Quando uma menina deixa de ser filha única e passa a ter um irmão ou uma irmã mais nova, assiste-se uma mudança do seu papel de família mais profunda do que aquela que é vista. Sim, passa a ser a irmã mais velha, mas com isso surge, regra geral, uma confusão sobre onde estão os limites da nova responsabilidade.
Na psicologia, fala-se em “síndrome da filha mais velha”, sem que haja um diagnóstico oficial com este nome, mas isso poderá mudar em breve. É que uma equipa de cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, EUA, estudou esta condição e concluiu que é verdade que as filhas mais velhas de uma família acabam por amadurecer mais depressa do que a restante prole.
Neste estudo, os investigadores provaram que as primogénitas sentem que devem ajudar as mães na educação dos irmãos mais novos e com outras atividades domésticas, quer o façam de forma consciente ou inconsciente. De facto, existe uma correlação entre os primeiros sinais de puberdade precoce nas filhas e os níveis de maior stresse pré-natal nas mães. Estas meninas têm uma maior maturidade cognitiva e os seus corpos podem desenvolver acne e pêlos mais cedo do que é esperado, mas está provado que a menstruação não é influenciada.
Molly Fox, antropóloga que liderou este estudo, diz que esta descoberta é “inédita e fascinante de se observar do ponto de vista evolucionário”. A investigadora diz que esta maturação precoce das meninas que são filhas mais velhas faz com que estejam preparadas para apoiar nos cuidados aos irmãos, mas sem que sejam capazes de gerar os próprios filhos, algo que lhes retiraria a atenção do apoio que dão às mães.
“Isto faz com que a mãe tenha uma ‘ajudante no ninho’, o que facilita às mulheres a tarefa de manter vivas as últimas crias”, exemplifica Jennifer Hahn-Holbrook, psicóloga e uma das co-autoras deste estudo. Os investigadores não encontraram o mesmo resultado nos meninos que são primogénitos. “Pode ser que as crianças do sexo masculino ajudem menos frequentemente nos cuidados infantis diretos do que as crianças do sexo feminino, de modo que as mães têm menos incentivo adaptativo para acelerar o seu desenvolvimento social puberal”, explica Hahn-Holbrook. Perante estes dados, os cientistas sugerem que a puberdade feminina é mais maleável do que a masculina.
O estudo
Esta foi uma investigação que durou 15 anos, num acompanhamento da gravidez à chegada dos bebés à adolescência, e cujos resultados foram apresentados em fevereiro de 2024 na revista Psychoneuroendocrinology. Numa primeira fase do estudo, os investigadores recrutaram participantes em clínicas obstétricas da Califórnia que estavam no primeiro trimestre de uma gravidez e com uma média de 30 anos de idade. Metade das voluntárias estava a passar por uma primeira gestação. Os cientistas analisaram os níveis de stress, depressão e ansiedade dessas mulheres às 15, 19, 25, 31 e 37 semanas de gestação, com o objetivo de analisarem o sofrimento pré-natal. Numa outra fase do estudo, analisaram os mesmos parâmetros nos dois a três meses após o parto.
Em separado, analisaram os bebés que nasceram nessas mães nas idades de 8 a 10, 11 a 12 e 13 a 16 anos, como forma de medir os indicadores de puberdade precoce. Os cientistas analisaram alterações corporais e testaram os níveis hormonais com testes de saliva nas diferentes etapas de avaliação. Paralelamente, mediram as adversidades enfrentadas pelas crianças durante a infância e ligaram esses acontecimentos com sinais precoces de maturidade. Chegou-se à conclusão que as meninas que amadureceram mais depressa eram aquelas que tinham mães com maiores níveis de stresse, ansiedade e depressão.
“Este estudo mostrou que há impactos significativos e duradouros para as mulheres e para os seus filhos no que diz respeito a fatores emocionais, ambientais e a outros fatores pré-natais”, afirma Fox. “Isto é importante para que continuemos a procurar soluções práticas e políticas que contribuam para um maior acesso a cuidados de saúde e para o bem-estar geral das mães grávidas.”