Depois da pandemia de Covid-19, ninguém quer pensar na possibilidade de haver uma nova. Contudo, há quem esteja completamente focado nessa hipótese, com o objetivo de a conseguir evitar.
Há vários grupos de cientistas em todo o mundo a trabalhar nesse sentido e um dos maiores exemplos é o do Centro de Desenvolvimento e Avaliação de Vacinas de Porton Down, que começou já a desenvolver vacinas como proteção contra uma nova pandemia, eventualmente causada por uma desconhecida e hipotética “Doença X”.
Os mais de 200 especialistas que trabalham nos laboratórios de Porton Down, em Wiltshire, Inglaterra, elaboraram uma lista de ameaças de vírus, que surgem de animais, capazes de infetar humanos e que podem, no futuro, espalhar-se rapidamente pelo mundo, como aconteceu com o SARS-CoV-2.
E sem poderem adivinhar qual dos agentes patogénicos será o causador da próxima eventual pandemia, os cientistas chamam-lhe “Doença X”.
Há cerca de seis anos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) está atenta à “Doença X”, um agente patogénico ainda desconhecido que foi, inclusivamente, em 2018, incluído na lista da OMS sobre doenças que devem ser prioridade.
Antes disso, em 2015, a OMS, após reconhecer a falta de preparação da comunidade internacional para a existência de surtos importantes, criou o plano R&D Blueprint for Action to Prevent Epidemics, identificando uma lista de agentes patogénicos com os quais o mundo deveria preocupar-se.
Neste momento, a lista inclui, além da “Doença X”, também a Covid-19, o Zika, os vírus ébola e Marburg, a febre de Lassa, a febre hemorrágica da Crimeia-Congo,as síndromes respiratórias Sars e Mers, a doença de nifa e a febre de Rift Valley .
De acordo com a OMS, esta “Doença X” representa “o conhecimento de que uma epidemia internacional grave pode ser provocada por um patogénio atualmente desconhecido, capaz de provocar doenças em humanos”. Ou seja, o objetivo é motivar o desenvolvimento de medidas que devem ser implementadas caso haja um eventual surto.
Durante o 54.º Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, que decorreu na semana passada, a agência internacional afirmou que esta doença pode ser 20 vezes mais mortal do que a Covid-19, num painel liderado pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, em que se discutiram os últimos desenvolvimentos relativos à doença.
“Que esforços são necessários para preparar os sistemas de saúde?”, foi a pergunta de partida feita por Ghebreyesus. Contudo, as respostas ainda não são claras. De acordo com os especialistas, prevenir um possível surto de uma “Doença X” requer um grande investimento em investigação e o desenvolvimento de novos tratamentos e vacinas, e ao mesmo tempo a criação de um grande sistema de vigilância que consiga detetar precocemente as ameaças.
A agência internacional está agora a debater temas relacionadas com a descoberta, a vigilância e a investigação de um agente patogénico sobre o qual nada se sabe, neste momento. “É melhor antecipar algo que pode acontecer, porque já aconteceu muitas vezes na nossa história, e prepararmo-nos para isso”, afirmou Ghebreyesus.
O plano da OMS passa, por exemplo, por criar um fundo para a potencial pandemia e por desenvolver, na África do Sul, um centro de transferência de tecnologia, com o objetivo de mitigar as desigualdades na distribuição de vacinas.