Investigadores descobriram uma nova classe de antibiótico capaz de atacar a Acinetobacter baumannii (CRAB, como é conhecida em inglês), uma superbactéria resistente às classes de medicamentos de último recurso (os carbapenemes) disponíveis na atualidade.
Nos últimos 50 anos, nunca tinha sido encontrado um tratamento químico eficaz contra a CRAB, que constituía um enorme risco para a saúde pública e era classificada como patógeno crítico de prioridade 1 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O zosurabalpin já foi testado em ratinhos e em modelos in vitro, tendo sido capaz de inibir o crescimento da bactéria.
Dois estudos foram publicados esta quarta-feira, dia 3, na revista Nature, a comprovar os achados. Um deles partiu da análise a um banco de dados com 44985 moléculas, tendo sido encontrado o zosurabalpin, uma nova classe de antibióticos de moléculas pequenas eficaz, principalmente, contra a CRAB, que não sendo das bactérias mais comuns, é frequente em surtos hospitalares e perigosa em pessoas com sistema imunitário debilitado.
“O mecanismo de ação dessa classe de moléculas envolve o bloqueio do transporte do lipopolissacarídeo bacteriano da membrana interna até ao seu destino na membrana externa, por meio da inibição do complexo LptB2FGC [complexo de proteínas responsável por esse mesmo transporte]”, descreve-se, nas conclusões.
Desta forma, é aumentada a toxicidade da célula infetada, levando à sua morte. O antibiótico foi desenvolvido em parceria com a farmacêutica suíça Roche, numa equipa liderada por Claudia Zampaloni e Konrad Beliche. As experiências levadas a cabo pela equipa da Universidade de Harvard, em Cambridge, nos Estados Unidos, com Daniel Khane, aos comandos, também mostraram uma redução considerável dos níveis de bactérias em ratinhos com pneumonia induzida pela CRAB e evitou a morte daqueles com sépsis.
“Infelizmente, o desenvolvimento de novos tratamentos contra esta bactéria tem sido extremamente desafiador porque ela é muito hábil em impedir que os antibióticos passem pela sua camada celular externa. Portanto, este trabalho é realmente entusiasmante e confere confiança de que as abordagens utilizadas para encontrar novos antibióticos possam dar frutos”, declarou Andrew Edwards, professor sénior de microbiologia molecular no Imperial College de Londres, que não esteve envolvido na investigação, ao jornal britânico The Guardian.
Michael Lobritz, diretor global de doenças infecciosas da Roche Pharma Research and Early Development, afirmou: “Esta é a primeira vez que encontramos algo que funciona desta forma, único na sua composição química e mecanismo de ação.”
Embora a descoberta do zosurabalpin não vá resolver todos os problemas das bactérias multirresistentes a antiobióticos, pode lançar as bases para esforços futuros para atacar o sistema de transporte de outras bactérias. Muito trabalho, contudo, está ainda pela frente.