Sabe-se há muito tempo que mantermo-nos ativos, especialmente durante a idade adulta, traz vários benefícios à saúde do corpo e cérebro, em idades mais avançadas, desde potenciar o crescimento de novas células cerebrais para neutralizar a perda que vem com a idade a melhorar o fluxo de oxigénio para o cérebro e proteger contra danos celulares causados pelos radicais livres.
Agora, um novo estudo, realizado por uma equipa de investigadores dos EUA e Canadá, concluiu que fazer treinos físicos rápidos, pelo menos três vezes por semana, pode ser suficiente para aumentar o volume cerebral. “A nossa investigação apoia estudos anteriores que mostram que ser fisicamente ativo é bom para o cérebro”, afirma Cyrus Raji, principal autor do estudo.
O objetivo da equipa, que analisou ressonâncias magnéticas cerebrais de pouco mais de 10.100 participantes, com idade média de 53 anos (mais jovens do que o típico doente com demência), acompanhando os seus hábitos de saúde, era entender a ligação entre a prática de exercício físico moderado a vigoroso cerca de dois a três dias por semana e os seus efeitos no volume cerebral.
Os participantes foram acompanhados ao longo de duas semanas, sendo que lhes foi perguntado com que frequência faziam exercício físico. A equipa dividiu, então, os voluntários em dois grupos: o que realizava exercício regularmente e o que não praticava atividade física. Mais especificamente, o grupo de praticantes de exercício treinava, em média, dois a três dias por semana, enquanto os membros do outro grupo foram considerados inativos se treinassem com menos frequência ou nunca.
Cerca de três quartos dos participantes do estudo praticavam atividades físicas moderadas a vigorosas, como andar de bicicleta, nadar ou caminhar, quatro vezes por semana, em média, durante pelo menos 10 minutos por dia, registaram os investigadores.
A conclusão da equipa foi que os voluntários que faziam exercício físico regular tinham volumes cerebrais maiores, e essa conclusão foi observada especificamente em regiões cerebrais ligadas ao processamento de informações e memória, percepção sensorial, controlo muscular e tomada de decisões, explica a equipa. E quanto mais uma pessoa praticava exercício físico, maior o volume cerebral, de acordo com a análise das ressonâncias.
Os investigadores referem que as caminhadas, corridas e alguns desportos coletivos fazem parte do tipo de exercício em que se encontrou este efeito com mais regularidade, mas referem que dar apenas 4 mil passos por dia pode ter um efeito positivo na saúde do cérebro – um estudo publicado em agosto do ano passado no Jornal Europeu de Cardiologia Preventiva já tinha permitido perceber que andar, pelo menos, cerca de 4 mil passos por dia tinha outros benefícios para a saúde, como a redução do risco de morte por qualquer causa, enquanto andar cerca de 2300 passos por dia reduz o risco de morte devido a uma doença cardiovascular.
De acordo com a equipa, a escala de dois a três dias de exercício físico, embora seja bastante inferior às recomendações, foi estabelecida intencionalmente para definir um nível de atividade física que poderia ser alcançado por mais indivíduos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não estabelece nenhuma meta em passos, mas recomenda que os adultos saudáveis pratiquem cerca de 150 a 300 minutos semanais de atividade física aeróbica moderada ou pelo menos 75 a 150 minutos de atividade física aeróbica intensa.
Ligação com a demência
“O exercício não só reduz o risco de demência, mas também ajuda a manter o tamanho do cérebro, o que é crucial à medida que envelhecemos”, refere Raji, que é professor de Radiologia no Mallinckrodt Institute of Radiology, em St. Louis, Missouri, nos EUA.
A equipa afirma que esta investigação contribui, de facto, para uma melhor compreensão da demência, e acredita que a prática de atividades físicas regulares possa eliminar placas beta amiloides no cérebro que podem levar à demência, melhorando o funcionamento cognitivo.
Neste sentido, o estudo, publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, concluiu que as pessoas fisicamente ativas tinham, no geral, um hipocampo maior, a região do cérebro associada à conversão de memórias de curto prazo em memórias de longo prazo.
Em casos de doentes que sofram de Alzheimer e outros tipos de demência, o hipocampo é uma das primeiras partes do cérebro a sofrer as consequências.
Além disso, os investigadores deram conta de que os praticantes de exercício tinham maiores volumes de massa cinzenta e branca, ambos tecidos cruciais do cérebro: o primeiro – cerca de 40% do cérebro consiste em matéria cinzenta – é essencial para o processamento sensorial e de linguagem; já o segundo é encontrado nos tecidos mais profundos do cérebro, que promovem a comunicação entre as células nervosas e, consequentemente, a transmissão de sinais entre diferentes regiões do órgão.