A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a sub-variante JN.1 do coronavírus como “variante de interesse” por causa da “rápida disseminação” que está a acontecer nos países do hemisfério Norte, que estão agora no inverno, mas ressalvou que o risco para a saúde global “é baixo”.
Quase quatro anos depois de surgirem os primeiros casos de Covid-19, na província de Wuhan, na China, e de a OMS ter declarado a situação de “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional”, em janeiro de 2020, o SARS-CoV-2 continua a “mutar-se mais rapidamente” que outros vírus respiratórios, como o da gripe, salienta, à VISÃO, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.
A nova sub-variante, a JN.1, está ligada à BA.2.86 (alcunhada de Pirola), que, por sua vez, já era uma sub-linhagem da variante Ómicron. Foi detetada, em setembro, nos EUA, mas rapidamente se espalhou já por 41 países, segundo os dados da OMS, com particular prevalência em França, Singapura, Canadá, Reino Unido e Suécia.
Em Portugal, nota o especialista, a JN.1 já é dominante. Os relatórios do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) demonstram isso mesmo: “Desde a semana 37 de 2023 [11 de setembro] que a circulação da linhagem BA.2.86 tem aumentado, tornando-se dominante (52,2%) nas semanas 43 a 45 de 2023 [outubro], ultrapassando a sub-linhagem XBB”, lê-se no último documento.
Desde 13 de dezembro que “a BA.2.86 (e suas descendentes) têm apresentado uma frequência relativa com tendência fortemente crescente, atingindo 90%”, sobretudo devido à circulação “da sua sub-linhagem JN.1”, mostra o último relatório de “Diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19) em Portugal” do INSA.
De acordo com Carmo Gomes, a “linhagem BA.2.86 tem uma maior capacidade de fuga aos anticorpos”. Para já, segundo os elementos disponíveis, sabe-se que a JN.1, “filha da Pirola”, refere, tem mais mutações na proteína spike (por onde o vírus entra nas nossas células).
No entanto, diz a OMS, a vacina atualmente em circulação para a dose de reforço continua a dar proteção contra “sintomas graves e doença grave”.
O epidemiologista adianta que a JN.1 está a “dominar a circulação no planeta todo”, sublinhando que muitos países fazem agora a monitorização do vírus “através de análise às águas residuais”, já que a notificação deixou de ser obrigatória. “Até na Austrália já encontraram esta sub-variante, e lá agora é verão”, aponta.
Em termos de impacto hospitalar, Carmo Gomes diz que houve uma “ligeira subida” de internamentos em França e no Reino Unido, mas “não é muito acentuada”.
A nível de infeções, a média a 7 dias, em Portugal, é de “153 casos notificados por dia”, acrescenta o especialista, sendo que há cerca de duas semanas era de “cento e poucos casos”, tendo havido, assim, “um ligeiro aumento”.
O epidemiologista diz que “não há que dramatizar”, já que, comparando com outras alturas, “a situação atual não é de preocupação”, ressalvando que há que “acompanhar o desenvolvimento”.
Até dia 4 de dezembro, a cobertura vacinal sazonal contra a Covid-19 no grupo etário com 60 ou mais anos “foi de cerca de 50%”, refere o INSA. O grupo com maior percentagem de vacinados é o dos 80+, com 61,51 por cento.