Um grupo de investigadores do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, EUA, desenvolveu uma nova ferramenta que promete ser uma forma eficaz de avaliar o risco de desenvolver demência ou sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mais tarde na vida.
“Procurámos desenvolver uma ferramenta que respondesse à pergunta que recebíamos com mais frequência dos nossos pacientes e dos seus familiares: ‘Como posso cuidar bem do meu cérebro?’”, escrevem os autores do novo estudo, publicado na Frontiers in Neurology.
Criaram, então, o Brain Care Score (BCS), um método que funciona como um teste de 21 pontos e também fornece conselhos sobre as melhores formas de reduzir os riscos.
Neste teste, são avaliados 12 fatores relativos à saúde que incluem, por exemplo, componentes físicos tais como os valores de pressão arterial, colesterol e Índice de Massa Corporal (IMC); o teste inclui também comportamentos relacionados com estilo de vida, como por exemplo o consumo de álcool e o tabagismo, a realização de atividades aeróbicas e a qualidade do sono.
Em relaçãos aos aspectos socioemocionais, que o teste também não deixou de parte, estes referem-se à qualidade das nossas relações sociais, à gestão do stress e ao propósito de vida de cada pessoa.
Além disso, os componentes do BCS incluem recomendações encontradas no Life’s Essential 8, da Associação Americana do Coração – que define as principais medidas para melhorar e manter a saúde cardiovascular – e vários fatores de risco modificáveis, isto é, aqueles em que podemos intervir e corrigir, para cancros comuns.
Teste que identifica risco de demência e AVC pode ser benéfico, mas são necessários mais estudos
Com o objetivo de testar a eficácia da nova ferramenta, a equipa de investigação analisou os resultados do Brain Care Score de quase 400 mil participantes no início do estudo e o desenvolvimento de demência ou AVC cerca de 12 anos depois.
Para isso, utilizaram dados do UK Biobank, banco de dados biológicos do Reino Unido, que acompanhou o estado de saúde de mais de meio milhão de pessoas entre os 40 e os 69 anos, durante pelo menos 10 anos.
De acordo com os autores do estudo, os voluntários que tiveram pontuação mais elevada no teste demonstraram um risco menor de desenvolver demência ou um AVC mais tarde na vida: entre os adultos com menos de 50 anos no início do estudo, uma diferença de cinco pontos positivos na sua pontuação foi associada a um risco 59% menor de desenvolver demência e a um risco 48% menor de sofrer AVC mais tarde na vida, revelaram.
Já os participantes na faixa 50 anos revelaram um risco 32% menor de virem a desenvolver demência e um risco 52% menor de virem a ter um AVC.
Para os voluntários com mais de 59 anos, as percentagens foram mais baixas: neste grupo, o risco de demência foi 8% menor e de AVC foi 33% menor. Os autores referem que estes resultados relativamente à faixa etária mais alta podem dever-se ao facto de a demência tender a progredir mais lentamente nestas idades.
Em comunicado, Jonathan Rosand, cofundador do McCance Center for Brain Health do Hospital Geral de Massachusetts, referiu que os “pacientes e profissionais podem começar a focar-se em melhorar o seu BCS, e a boa notícia é isso também pode proporcionar benefícios” para a saúde em geral.
Já Richard Isaacson, diretor de investigação do Instituto de Doenças Neurodegenerativas, na Flórida, EUA, referiu, em entrevista à CNN, que “a maioria das pessoas não sabe que pelo menos 40% dos casos de demência podem ser evitáveis se a pessoa fizer tudo certo”, acrescentando que “o Brain Care Score ajuda as pessoas em risco, através de um roteiro baseado em 12 fatores modificáveis antes do início do declínio cognitivo.”
Apesar dos resultados, são necessárias mais investigações que confirmem que é possível reduzir o risco de desenvolver demência ou ter um AVC através da melhoria do próprio Brain Care Score ao longo do tempo, uma vez que as pontuações dos participantes foram medidas apenas uma única vez. Esta hipótese está, aliás, a ser atualmente estudada pelos investigadores.