A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu à China mais informações sobre o aumento de doenças respiratórias e sobre os surtos de pneumonia em crianças. Também foram solicitados detalhes sobre as tendências recentes na circulação de agentes patogénicos e a atual carga sobre o sistema de saúde.
As primeiras notícias surgiram a 13 de novembro, dia em que as autoridades chinesas da Comissão Nacional de Saúde comunicaram um aumento da incidência de doenças respiratórias no País.
Esse aumento foi atribuído ao levantamento das restrições relativas à Covid-19 e à circulação de agentes patogénicos já conhecidos, como a gripe, o Mycoplasma pneumoniae (uma infeção bacteriana comum que afeta normalmente as crianças mais pequenas), o vírus sincicial respiratório e o SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19).
As autoridades chinesas sublinharam, então, a necessidade de reforçar a vigilância das doenças nos estabelecimentos de saúde e na comunidade, bem como de reforçar a capacidade do sistema de saúde para gerir os doentes.
Já esta semana, meios de comunicação social e o ProMed (sistema de vigilância global que monitoriza doenças infecciosas) deram conta da existência de casos de pneumonia não diagnosticados em crianças no norte da China. E “não é claro se estes casos estão associados ao aumento global das infeções respiratórias anteriormente notificado pelas autoridades chinesas ou se são acontecimentos distintos”, refere a OMS, em comunicado.
“No que diz respeito à pneumonia não diagnosticada, ela é consistente com os relatos de pneumonia por Mycoplasma a nível nacional, tanto em fontes noticiosas ocidentais como chinesas, que se prolongam há pelo menos dois meses”, disse o médico Stephan Gibson ao ProMed. “A minha experiência pessoal também é consistente com esses relatos: vários amigos com doença, principalmente tosse e letargia, mas pelo menos um teve febre alta como primeiro sintoma. A azitromicina e a doxiciclina são eficazes, pelo menos nos poucos casos que conheço.”
Num dos seus e-mails, constante num comunicado do ProMed, o mesmo médico acrescenta que outros sintomas de “pneumonia atípica” incluem tosse, febre e vómitos: “Nas crianças mais velhas e nos adultos, a tosse tende a ser um sintoma proeminente, ao passo que nas crianças mais novas pode não haver tosse, mas sintomas respiratórios superiores como sintoma proeminente, náuseas e vómitos.”
“O relatório inicial sobre este surto refere especificamente ‘ausência de tosse’ e as principais apresentações foram febre alta. Além disso, as anomalias radiográficas foram descritas como nódulos pulmonares, em vez daquilo que costuma ser observado mais frequentemente na pneumonia por Mycoplasma. Seja como for”, escreve, “os micróbios não ‘leem o livro’ e podem apresentar-se de formas menos típicas. Aguardamos mais informações sobre os estudos de diagnóstico realizados nestes casos.”
Desde meados de outubro, o norte da China tem registado um aumento de doenças semelhantes à gripe em comparação com o mesmo período dos três anos anteriores, faz notar a OMS, lembrando que o País dispõe de sistemas para recolher informações sobre as tendências da gripe, das doenças semelhantes à gripe, do vírus sincicial respiratório e do SARS-CoV-2, e envia relatórios para plataformas como o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Gripe.
Enquanto não chegam as informações adicionais solicitadas, a OMS recomenda que as pessoas na China sigam as medidas para reduzir o risco de doenças respiratórias. Ou seja, fazer a vacinação recomendada, manter a distância de pessoas doentes, ficar em casa quando estiver doente, fazer exames e receber cuidados médicos conforme necessário, usar máscara, se for caso disso, assegurar uma boa ventilação e lavar as mãos regularmente.
Certo é que, por causa do surto de pneumonia, os hospitais pediátricos de Pequim, Liaoning (a quase 800 km de distância da capital) e outros locais estão sobrecarregados com crianças doentes, alertou o ProMed. “De manhã cedo, o Hospital Pediátrico de Pequim continuava sobrelotado de pais e crianças cujos filhos tinham pneumonia e vinham procurar tratamento”, descreve-se no último comunicado que cita um cidadão: “Muitos, muitos estão hospitalizados. Não tossem e não têm sintomas. Têm apenas uma temperatura elevada [febre] e muitos desenvolvem nódulos pulmonares.”
De acordo com o ProMed, a situação na província de Liaoning é igualmente grave. “O átrio do Hospital Pediátrico de Dalian está cheio de crianças doentes a receberem soro por via intravenosa. Há também filas de doentes nos hospitais de medicina tradicional chinesa e nos hospitais centrais”, lê-se no mesmo comunicado. Segundo um funcionário do Hospital Central dessa cidade, os doentes têm de esperar duas horas na fila. “Estamos todos no serviço de urgência e não há consultas externas gerais.”
As escolas e as aulas estiveram mesmo à beira da suspensão, porque também há muitos professores infetados. E os pais questionam se as autoridades estariam a encobrir a epidemia.
“É muito cedo para prever se esta poderá ser outra pandemia”, sublinha o relator do comunicado do ProMed. “Mas como me disse um sábio virologista da gripe: ‘O relógio da pandemia está a contar, só não sabemos que horas são’.”
Recorde-se que, em dezembro de 2019, foi uma notificação deste sistema de vigilância global que monitoriza doenças infecciosas que chamou a atenção do mundo para um vírus misterioso, mais tarde conhecido como Covid-19, que já então grassava na China.