A alergia a gatos é um problema muito comum e os dados indicam isso mesmo: cerca de 1 em cada 5 adultos em todo o mundo sofre de sensibilidades aos alergénios de gatos e esta é a mais comum entre as alergias a animais, sendo que o número tem vindo a aumentar nos últimos anos, diz à VISÃO Sofia Pinto Luz, Coordenadora de Imunoalergologia do Hospital CUF Cascais e da Clínica CUF São Domingos de Rana.
Este tipo de sensibilidade ou alergia a gatos pode, por se acreditar que o problema está no seu pelo, e por levar a sintomas que podem ser graves, limitar a interação com este animal e, em alguns casos, obrigar à rotura total do vínculo.
“Muitas vezes estes sintomas são graves, associados a crises de dificuldade respiratória e necessidade de recorrer aos serviços de urgência”, aparecendo “muito rapidamente até 30 minutos após a exposição, esclarece Sofia Pinto Luz.
Contudo, entre 90% e 96% das reações em pessoas sensíveis a alergénios de gatos são causadas pelo Fel d 1, uma proteína que todos os gatos produzem na sua saliva – foram, até agora, classificados 8 alergénios de gato diferentes, de Fel d 1 a Fel d 8. Quando estes animais fazem a sua higiene, o Fel d 1 espalha-se pela pele e pelo e, consequentemente, pelo ambiente em que o gato circula.
“Existe a crença de que determinadas raças de gatos, especialmente as raças sem pelo, são ‘hipoalergénicas’, mas isso não é verdade. Todos os gatos produzem Fel d 1. Alguns estudos demonstram que os gatos machos produzem 3 a 5 vezes menos Fel d 1 após a esterilização”, afirma ainda a especialista.
Mas porque é que somos alérgicos a alguns gatos e a outros não?
A resposta, diz Sofia Pinto Luz, “está na grande variabilidade na produção de Fel d 1 entre as várias espécies de gatos e na grande variabilidade de produção deste alergénio ao longo do ano no mesmo gato, já que existem picos de produção” desta proteína.
Em Portugal, as principais estratégias usadas pelos tutores com sensibilidades aos alergénios dos gatos passam por realojar o animal, restringi-lo a determinadas divisões da casa ou isolar os seus pertences.
No entanto, o Fel d1 é de fácil disseminação, permanece no ar em partículas de pelos e pó e é transferido passivamente na roupa para lugares como escolas, casas sem gatos e até mesmo transportes públicos e edifícios. Por isso mesmo, estas medidas não são totalmente eficazes.
Então, que soluções têm os donos?
Sofia Pinto Luz explica que as pessoas com sensibilidades aos alergénios dos gatos devem manter as estratégias habituais para ajudar a reduzir a carga de alergénios nas suas casas:
· Lavar as mãos após tocar no gato;
· Aspirar (filtro HEPA) o colchão e sofá, pelo menos uma vez por semana;
· Evitar o uso de tapetes e carpetes;
· Usar roupa de cama de algodão em vez de fibras de flanela, polar ou lã;
· Lavar lençóis a temperaturas altas (superior a 60°) uma vez por semana;
· Abrir janelas para arejamento da casa, promovendo a ventilação;
· Restringir a circulação do gato a determinadas zonas da casa, evitando os quartos;
· Utilizar purificadores de ar.
Sofia Pinto Luz aborda ainda a importância da utilização de vacinas injetáveis por via subcutânea ou gotas por via oral como “arma” terapêutica e que tem demonstrado resultados eficazes em “alguns doentes selecionados”, com o objetivo de dessensibilizar o corpo e ganhar tolerância ao gato. “Dessa forma, a pessoa com alergia sentirá menos sintomas quando contactar com gatos”, remata.