Um estudo publicado o mês passado na revista científica PLOS ONE concluiu que não consumir alguns alimentos, e cozinhar bem outros, enquanto se está tomar antibióticos é uma forma de evitar ficar resistente a estes medicamentos, ao impedir o acesso de bactérias com os genes da resistência ao intestino.
A equipa de investigadores da Universidade de Nottingham sublinha que se, até agora, os esforços para travar a resistência crescente aos antibióticos se focaram na medicina propriamente dita, e em algumas medidas de higiene, é altura de considerar a importância dos genes de resistência no intestino.
Estes genes estão nas moléculas de ADN das bactérias e podem transferir-se de célula para célula, permitindo aos organismos como as bactérias construir a sua resistência à terapêutica que as podia combater.
A equipa de cientistas concluiu que o número de genes resistentes no intestino de uma pessoa depende do seu nível de consumo de antibióticos – e por isso os alertas constantes, de há uns anos para cá, sobre a necessidade de limitar a prescrição destes medicamentos aos casos em que são mesmo imprescindíveis – mas que o número de genes de resistentes adquiridos pode ser reduzido alterando a forma de preparar e consumir os alimentos.
E aqui entram os conselhos que, defendem os investigadores, deviam ser dados pelos médicos aos pacientes no momento em que lhes prescrevem antibióticos, já que é durante o período da toma desta medicação que nos tornamos mais suscetíveis às bactérias resistentes presentes na alimentação, como explica Dov Stekel, professor de biologia computacional na Universidade de Nottingham e líder do estudo. São, então de evitar, “produtos de alto risco”, conforme se lê no estudo: carnes cruas e cozinhadas, produtos lácteos fermentados e vegetais crus e saladas, em particular os embalados que não são cozinhados nem lavados antes de consumidos.
“Se comermos algo que contenha bactérias que não nos causem qualquer dano, mas que tenham alguns genes resistentes a antibióticos e, por acaso, estivermos a tomar antibióticos, essa resistência pode estabelecer-se no nosso ecossistema intestinal, pelo que, da próxima vez que precisarmos de antibióticos, estes podem não funcionar eficazmente”, acrescenta.
Para este estudo foram analisadas 14 classes de antibióticos e utilizados modelos matemáticos para simular a ingestão de genes de resistência em 1000 pessoas com base numa utilização baixa, média e elevada de antibióticos. Durante a investigação foram utilizados dados de um estudo anterior que conclui que a diversidade genética dos antibióticos na microbiota intestinal- conjunto de micróbios que habitam no intestino- está relacionada com a idade.
De acordo com o estudo a resistência a antibióticos pode estabelecer-se após a ingestão de alimentos contaminados. Muitos estudos demonstram a presença desta resistência em produtos alimentares de alto risco: carnes cruas e cozinhadas, produtos lácteos fermentados, produtos de carne e produtos vegetais devido à falta de cozedura e lavagem antes do consumo.