O nosso organismo quando contacta com alguma partícula que lhe é “estranha” reage de forma exagerada – a isso chama-se alergia e pode começar quando se é bebé. Em Portugal, estima-se que a incidência de alergia alimentar ronde entre 5% e 7%, e os alimentos que mais frequentemente a provocam, em idade pediátrica, são o ovo, o leite e o trigo. É frequente 50% a 60% de crianças adquirirem naturalmente a tolerância ao alimento a que foram alérgicos entre os 3 e os 5 anos. Por volta dos 9-10 anos, começa a haver uma diminuição dos casos de alergia ao leite, ao ovo e ao trigo, e passa a verificar-se um aumento de alergia ao peixe, marisco e frutos secos.
Dito isto, a mais recente investigação, liderada pelo Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch, na Austrália, e publicada no Lancet Child & Adolescent Health, é importante, pois esclarece que ter uma alergia alimentar quando se é bebé está ligado à asma e à redução da função pulmonar mais tarde na infância.
Segundo Rachel Peters, professora associada do instituto, este é o primeiro estudo a examinar essa associação direta. Para tal, em Melbourne, 5 276 bebés do estudo HealthNuts, foram submetidos a testes cutâneos para alergénios alimentares comuns, incluindo amendoim e ovo e provas alimentares orais para testar a alergia alimentar. Mais tarde, aos 6 anos, as crianças foram acompanhadas com novos testes de alergia alimentar e função pulmonar.
O estudo concluiu que, aos 6 anos, 13,7% das crianças foram diagnosticadas com asma. Bebés com alergia alimentar tinham quase quatro vezes mais hipóteses de desenvolver asma aos 6 anos, em comparação com crianças sem alergia alimentar. O impacto foi maior em crianças cuja alergia alimentar persistiu até os 6 anos, em oposição àquelas que superaram a alergia. Crianças com alergia alimentar também eram mais propensas à redução da função pulmonar.
“Esta associação é preocupante, uma vez que o crescimento pulmonar reduzido na infância está associado a problemas de saúde na idade adulta, incluindo problemas respiratórios e cardíacos”, alerta Rachel Peters. “O desenvolvimento pulmonar está relacionado com a altura e o peso de uma criança e as que têm alergia alimentar podem ser mais baixas e mais leves em comparação com as livres de alergia. Também há respostas imunes semelhantes no desenvolvimento de alergia alimentar e asma”, acrescenta.
As crianças com alergia alimentar devem ser tratadas por um nutricionista, bem como por um especialista em imunologia clínica ou alergia para tratamento e educação contínuos, porque a asma mal controlada é um fator de risco para reações alérgicas graves induzidas por alimentos e anafilaxia.