Alguma vez vestiu uma t-shirt nova e ficou com comichão? Ou despiu umas calças novas ao fim do dia e tinha uma erupção cutânea por causa do tecido?
Estas consequências parecem cada vez mais banais devido aos produtos químicos que são adicionados às roupas para as tornar antirugas, resistentes a nódoas ou odores. Alguns dos produtos químicos podem causar problemas respiratórios ou dermatológicos.
Lançado recentemente, o livro To Dye For: How Toxic Fashion is Making us Sick – and How We Can Fight Back (Tingir: Como a moda tóxica nos está a deixar doentes – e como podemos retaliar, numa tradução livre) da jornalista e escritora Alden Wicker conta-nos, com vários exemplos, como os químicos nos invadiram o guarda-roupa.
Karly Hiser, enfermeira pediátrica no Michigan, EUA, conta Wicker num artigo publicado no jornal The Guardian, enfrentou esse problema com o filho bebé. O eczema da criança ia piorando de dia para dia, mesmo depois de ter passado a usar sabonetes sem fragância e produtos de limpeza não tóxicos. Vaselina e pomada com corticóides faziam parte do dia a dia da criança depois do banho. Tentaram tudo, mas nada parecia resultar. Os Hiser, como qualquer família com um orçamento familiar limitado, comprava as roupas do bebé em lojas mais baratas, incluindo roupa desportiva de poliéster. As manhãs eram uma guerra para vestir a criança, que recusava as roupas. Como resolveram o problema? A enfermeira comprou tecidos não tóxicos e deu uso à máquina de costura da avó para fazer as roupas do filho. Hiser acredita que as roupas eram o problema dos eczemas.
“Nem todos os produtos químicos são maus ou prejudiciais, mas gostaria pelo menos de saber o que está nas roupas das crianças”, contou a enfermeira à jornalista.
O impacto da exposição a produtos químicos nocivos em trabalhadores têxteis, muitos dos quais trabalham em países subdesenvolvidos, foi alvo de estudos que concluíram que problemas respiratórios, erupções cutâneas e, até, mortes, foram culpa destes tóxicos.
Irina Mordukhovich, uma das autoras de uma investigação da universidade de Harvard, em 2018, nos EUA, diz que mesmo que “cada produto químico esteja abaixo dos limites que seriam considerados um problema de segurança, o que não sabemos é que efeitos têm quando interagem uns com os outros.”
E usar uniforme adensa a propensão para as reações alérgicas, já que o mesmo é usado de forma constante, ao invés da camisa que vestimos hoje e depois só algum tempo depois a voltamos a usar.
A Alaska Airlines enfrentou esse problema quando encomendou novas fardas para os assistentes de bordo. A história começou em 2011, com funcionários a queixar-se de tosse seca, passando depois para erupções cutâneas com bolhas, pálpebras inchadas com pus, urticária e, no casos mais graves, problemas respiratórios e reações alérgicas tão complicadas que um dos comissários de bordo teve de ser retirado do avião e levado ao médico várias vezes.
As roupas foram analisadas e tinham, entre outros produtos, cobalto, arsénico e corantes conhecidos por causas alergias, como o tolueno ou um antifúngico recentemente proibido na União Europeia.
A empresa fabricante dos uniformes sentou-se no banco dos réus, mas foi absolvida, e disse que nenhum destes componentes estava presente em elevados níveis. O processo dos assistentes de bordo contra o fabricante foi encerrado em 2016 por falta de provas.
Mas o estudo de Harvard descobriu que, após a introdução das fardas, o número de assistentes com sensibilidade química, como dores de garganta, tosse, falta de ar, comichão, erupções cutâneas ou urticária aumentou para o dobro. “Este estudo encontrou uma relação entre as queixas e a introdução dos novos uniformes”, concluíram os autores.
Esta história, conta a autora do livro, repetiu-se mais vezes, já que outras companhias aéreas, como a American Airlines, a Delta e a Southwest compraram novos uniformes de poliéster com cores vivas em vez dos antigos, feitos de lã, e foram revestidos com camadas anti-rugas, resistentes a manchas, e tecnologia têxtil para retardar chamas.
Em 2022, um estudo da Universidade de Toronto, estimou que, em média, as crianças que usam uniforme escolar resistentes a manchas estavam mais expostas aos malefícios das PFAS (substâncias perfluoroalquiladas) – as PFAS são uma grande gama de substâncias químicas sintéticas usadas em vários produtos que não se degradam com facilidade.
Os PFAS têm sido associados a vários tipos de cancro, anomalias fetais, distúrbios reprodutivos, obesidade e redução da função do sistema imunológico, explica a escritora e jornalista.