O cancro colorrectal é o segundo mais frequente em Portugal, sendo responsável pelo aparecimento de mais de 7 mil novos casos por ano, sendo, também, o mais letal, de acordo com a Fundação Champalimaud.
Também a nível mundial este cancro é o terceiro mais comum, com quase dois milhões de novos casos em 2020, sendo o segundo mais letal. Nos EUA, prevê-se que os casos de cancro do cólon em pessoas com menos de 40 anos dupliquem até 2030, e projeta-se que seja a primeira causa de mortes por cancro em jovens até o final da década.
Dados do JAMA Surgery mostraram que, de 2010 a 2030, o cancro do cólon deve mesmo aumentar 90% em pessoas entre os 20 e os 34 anos.
Agora, uma nova investigação realizada por investigadores da Cleveland Clinic, em Cleveland, Ohio, EUA, e apresentada no início do mês na conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology, originalmente) em Chicago, concluiu que, tanto o consumo excessivo de carne vermelha como de açúcar, alimentos consumidos com muita regularidade, podem ajudar a explicar o aumento do número de casos de cancro do colorretal em pessoas mais jovens.
O estudo, que incluiu 170 doentes com cancro colorretal, 66 dos quais tinham menos de 50 anos, examinou metabólitos, substâncias criadas no corpo quando os alimentos se decompõem, ou seja, produtos do metabolismo de uma determinada molécula ou substância.
Os resultados mostraram que pessoas com menos de 50 anos com cancro colorretal tinham níveis mais baixos de citrato, um composto criado quando o corpo converte alimentos em energia, e que pode inibir o crescimento deste tumor, de acordo com investigações, relativamente aos doentes mais velhos.
Além disso, a equipa encontrou diferenças em como os jovens decompõem proteínas e hidratos de carbono em certos alimentos, o que pode significar, de acordo com os investigadores, que a ingestão excessiva de carne vermelha e açúcar está relacionada com o desenvolvimento de cancro colorretal em idades mais jovens.
Citado pelo Daily Mail, Suneel Kamath, oncologista especialista da área gastrointestinal na Cleveland Clinic e autor sénior da investigação, explica que “a maneira como utilizamos os nossos hidratos de carbono para produzir energia”, mas também a forma como usamos proteínas e aminoácidos da nossa dieta” revelaram ter “relações muito fortes com a incidência de cancro”, acrescentando que, para o cancro colorretal, essa ligação ainda não tinha sido estabelecida anteriormente.
O mesmo investigador afirma ainda que “a obesidade constitui um importante fator de risco para o desenvolvimento de qualquer tipo de cancro, incluindo o colorretal” e refere que, apesar de serem necessárias mais investigações, existem evidências suficientes que sugerem a importância de reduzir o consumo de carne vermelha e o açúcar.
O problema do aumento de casos de cancro colorretal em pessoas mais novas, ou seja, abaixo dos 50 anos, existe, neste momento, por todo o mundo, de acordo com a Fundação Champalimaud, “o chamado early-onset colon cancer (cancro do cólon de idade precoce)”. “Há dez anos, a frequência de cancro do cólon e do reto abaixo dos 50 anos era de 5% da totalidade dos cancros e agora é de 10%. Em apenas 10 anos, houve uma duplicação dos casos de cancro do cólon e reto em pessoas com menos de 50 anos”, afirma a fundação.
Uma revisão de estudos publicada este ano revelou que, nos EUA a taxa de cancro colorretal em idades jovens é de 12,4 por 100 mil pessoas; já na Austrália, essa taxa é maior: 13,5, revela a equipa. Na Noruega, o valor é 10,5 e no Reino Unido 9,3, segundo a investigação.
O mesmo estudo deu conta de que mais de metade dos entrevistados reveleram ter sido diagnosticados de forma errada com outras doenças e que os doentes com idades entre os 19 e os 39 anos eram mais propensos a sentirem-se desvalorizados pelos seus médicos.
Uma outra revisão de estudos, publicada no European Journal of Epidemiology, demonstrou que o consumo elevado de carne vermelha foi associado a vários tipos de cancro, incluindo o colorretal.
Também uma investigação realizada em 2021 descobriu que consumir em excesso alimentos e bebidas com açúcar aumentava o risco de desenvolver cancro colorretal.
Em Portugal, é recomendado, oficialmente, para prevenção do cancro colorrectal, uma pesquisa de sangue oculto nas fezes, de dois em dois anos, a partir dos 50 anos, sendo o sintoma dominante na doença mais avançada a perda de sangue.