O número de neurónios aumenta ao longo da infância?
Quando nascemos, já temos todos os neurónios com que vamos morrer, que são essencialmente os mesmos, exceto se houver Alzheimer ou uma doença degenerativa com perda de neurónios. O que muda são as ligações entre eles. Calcula-se que haja cerca de mil novos neurónios fabricados todos os dias, até na vida adulta, mas isso acontece em estruturas muito particulares, vestigiais mesmo.
Há alguma idade em que a multiplicação das ligações entre neurónios seja particularmente acentuada?
O crescimento das ligações faz-se, sobretudo, entre os 2 e os 4 anos de vida, em áreas diversas. Mas também é muito importante perdermos ligações para podermos funcionar melhor. Para aprender, precisamos de esquecer, pois esse esquecimento é fundamental para vivermos bem no nosso presente e pensarmos no nosso futuro. O grosso dessa poda de ligações dá-se após os 4 anos e continua até aos 10, quando há padrões de densidade sináptica muito semelhantes aos da idade adulta, exceto no córtex pré-frontal, onde o amadurecimento ocorre até à terceira década de vida.
O que se deve fazer para que as crianças desenvolvam sistemas fortes?
Estamos todos programados para termos sistemas e circuitos fortes. Não devemos treinar mais isto ou aquilo, nem há estímulos específicos para promover ou aumentar a plasticidade do cérebro – está definida à partida. E se, há 20 anos, pensávamos que a partir dos 8 anos ninguém conseguia, com um hemisfério lesado por um traumatismo, transferir para o lado oposto do cérebro funções nobres, hoje sabemos que há plasticidade até bem mais tarde.
A genética determina a qualidade das ligações cerebrais ou as experiências têm o seu papel?
A genética cria as bases para, depois, com os estímulos adequados, as coisas acontecerem. Basta pensar que uma árvore de fruto tem mais genes do que o ser humano…
Ao nível emocional, como se desenvolve o cérebro da criança?
Já nascemos com as estruturas necessárias para atribuir e fabricar emoções em relação às coisas, mas não nascemos com memória para lhes dar o significado que elas têm. Assim, podemos gostar ou não gostar de algo logo que nascemos, mas só podemos compreender e ter memória das coisas por volta dos 3 anos e meio ou 4 anos. Isto acontece porque há uma maturação mais precoce de todas as estruturas responsáveis pelo emocionar das coisas à nossa volta e pela relação que permite compreendê-las e integrá-las numa experiência que passa a ser nossa.