Um estudo, apresentado no dia 26 de março no Congresso Europeu de Psiquiatria em Paris, mostra que indivíduos com problemas de saúde mental de longa duração como depressão, ansiedade e doença bipolar são biologicamente mais velhos do que a sua idade cronológica.
Os investigadores analisaram os metabolitos do sangue, que são pequenas moléculas produzidas durante o processo de metabolismo como os lípidos, o colesterol e os aminoácidos, de mais de 110 mil residentes do Reino Unido. Foi identificado um “perfil metabólico” nos participantes com doença mental, que indicava uma idade biológica mais avançada.
“É agora possível prever a idade das pessoas a partir dos metabolitos presentes no sangue. Descobrimos que, em média, aqueles com um historial de doença mental de longa duração tinham um perfil metabólico que indicava serem mais velhos do que a sua idade real. Por exemplo, as pessoas com transtorno bipolar tinham marcadores sanguíneos indicando que eram cerca de dois anos mais velhas do que a sua idade cronológica”, afirmou Julian Mutz, investigador principal do estudo, em comunicado à imprensa.
Se os participantes com doença bipolar tinham uma idade biológica dois anos superior à idade cronológica, os participantes com depressão eram um ano mais velhos, e os que sofriam de ansiedade tinham mais 0,7 anos.
“Os nossos resultados indicam que os corpos das pessoas com problemas de saúde mental tendem a ser mais velhos do que seria de esperar para um indivíduo da sua idade. Isto pode não explicar toda a diferença na saúde e esperança de vida entre as pessoas com problemas de saúde mental e a população em geral, mas significa que o envelhecimento biológico acelerado pode ser um factor importante. Se pudermos utilizar estes marcadores para acompanhar o envelhecimento biológico, isto pode mudar a forma como controlamos a saúde física das pessoas com doenças mentais e como avaliamos a eficácia das intervenções destinadas a melhorar a saúde física”, explicou Mutz
Estes resultados corroboram investigações anteriores, que demonstraram como as doenças mentais deterioram a saúde física. Um estudo publicado em setembro de 2022 afirmou que sentimentos de depressão e solidão podem envelhecer o corpo em 1,65 anos, mais do que o tabagismo (1,25 anos). Outra investigação, publicada em dezembro de 2022, sugere que os fatores de stress relacionados com a pandemia alteraram fisicamente os cérebros dos adolescentes, fazendo com que as suas estruturas cerebrais envelhecessem. Até agora, segundo os investigadores, estes tipos de mudanças aceleradas na idade do cérebro eram registadas apenas em indivíduos que experimentaram situações de violência, negligência, disfunção familiar, ou por uma combinação de múltiplos fatores.