As sequelas duradouras da Covid-19 têm sido amplamente estudadas pelos cientistas, tendo sido descobertos vários sintomas que persistem por semanas ou meses depois da infeção. Agora, um novo estudo mostra que os pacientes que contraíram o coronavírus são significativamente mais suscetíveis de terem problemas gastrointestinais dentro de um ano após a infeção, sendo a doença do refluxo gastroesofágico ou a úlcera péptica as queixas mais comuns.
O estudo, publicado nesta terça, 7, no jornal Nature Communications, comparou registos médicos de mais de 154 mil pacientes que contraíram Covid-19 – entre 1 de março de 2020 e 15 de janeiro de 2021, uma fase inicial da pandemia, pelo que muitas delas ainda não tinham sido vacinadas –, com os de 5,6 milhões de pessoas, de idades e características similares, que nunca estiveram infetadas com o coronavírus (ambos acompanhados pela Veterans Health Administration, o maior sistema integrado de saúde dos Estados Unidos). Os primeiros tinham 36% mais probabilidade de apresentarem problemas gastrointestinais a longo prazo, mesmo que não tivessem sido hospitalizados. Tinham ainda maior risco (54%) de apresentar sintomas digestivos como prisão de ventre, diarreia, inchaço, vómito e dor abdominal. Provavelmente, outras variantes do vírus, contraídas por pacientes já vacinados, não terão um impacto tão significativo, reconhecem os cientistas.
“Parece haver alguma desregulação que aponta para um grande desequilíbrio na produção de ácido”, disse Ziyad Al-Aly, um dos autores principais do estudo, chefe de pesquisa e desenvolvimento do sistema de cuidados de saúde de St. Louis. “Os problemas gastrointestinais foram os primeiros relatados pela comunidade de pacientes”, apontou este epidemiologista na Universidade de Washington, que estudou intensamente a Covid longa e já apresentou outras pesquisas relacionadas com os seus efeitos no cérebro, coração, rins e outros órgãos. “É cada vez mais claro que o trato gastrointestinal serve de reservatório para o vírus.”

Os cientistas estimam que, até agora, as infeções causadas pela Covid-19 contribuíram para mais de seis milhões de novos casos de distúrbios gastrointestinais nos Estados Unidos e 42 milhões de novos casos em todo o mundo. “Este não é um número pequeno”, sublinhou Al-Aly. “É crucial incluir a saúde gastrointestinal como parte integrante dos cuidados pós-agudos da Covid”, defendeu.
Em declarações ao New York Times, Ziyad Al-Aly deixou uma nota otimista. Ao contrário de sintomas de Covid-longa como a fadiga e o nevoeiro cerebral, que se mantém sem resposta às terapias durante meses, muitos dos sintomas gastrointestinais parecem ser tratáveis.