É importante que os pais saibam que os bons hábitos de saúde oral começam muito cedo. Mas quando devem as crianças ir ao dentista pela primeira vez? Em média, os primeiros dentes de leite crescem a partir dos seis meses. É aconselhado que os bebés tenham a primeira consulta até completarem o primeiro ano, precisamente para se começar a “apostar na prevenção e não exclusivamente nos tratamentos dentários”, diz Ana Alves, médica-dentista com prática exclusiva em odontopediatria – área da medicina dentária dedicada à saúde oral de bebés, crianças e adolescentes.
Nessa consulta, o dentista deve avaliar o risco de cárie, bem como ensinar os hábitos alimentares e de higiene oral. Quando a criança apresenta um elevado risco de vir a desenvolver cáries, deve ser observada a cada três meses. Em situações em que a criança tem uma boa saúde oral e um baixo risco de cáries, é recomendado visitar o dentista a cada seis meses.
Aos 3 anos, geralmente a dentição de leite está completa, e a criança já possuiu os 20 dentes decíduos. Até esta idade, a escovagem deve ser feita pelos pais, utilizando-se uma gaze ou uma escova macia de tamanho adequado. A partir dos 6 anos, começam a nascer os primeiros dentes definitivos.
“Felizmente, o que se tem notado nos últimos tempos é que as crianças, acompanhadas pelos pediatras, já chegam com a recomendação para virem à [primeira] consulta cada vez mais cedo, o que é ótimo”, refere a médica-dentista da Clínica de Santa Madalena. No entanto, esta não é a realidade ao nível nacional. Em Portugal, no ano de 2021, mais de 70% das crianças até aos 6 anos nunca tinham ido ao dentista, segundo dados divulgados pela Ordem dos Médicos Dentistas.
Chuchas? Sim ou não
Os problemas dentários apresentados pelas crianças estão, em grande parte, relacionados com a má higiene oral. A cárie dentária é uma das doenças mais comuns. Não lavar os dentes ou não o fazer de forma correta, bem como consumir exageradamente alimentos com açúcar, favorece o aparecimento de cáries.
Os dentes de leite são mais suscetíveis à cárie dentária, porque são menos resistentes do que os definitivos, daí ser tão importante consultar um médico-dentista ainda antes de as crianças terem completado a dentição permanente.
A gengivite, outro problema bastante prevalente nas crianças, resulta da acumulação de placa bacteriana e de uma má higienização. A inflamação da gengiva provoca, normalmente, o sangramento aquando do escovar os dentes ou do uso do fio dentário e, em casos mais graves, até mesmo a perda de dentes.
O flúor é um elemento essencial para o crescimento de dentes fortes e saudáveis. No entanto, em excesso pode dar origem à fluorose, que se manifesta por meio do aparecimento de manchas brancas ou castanhas no esmalte.
Quando a criança ainda não sabe cuspir, e tende a ingerir a pasta, os dentistas aconselham a que se use um dentífrico com 1000 ppm de flúor e a que se coloque na escova o tamanho equivalente a um grão de arroz. Numa idade mais avançada, quando a criança já é autónoma a lavar os dentes, aumenta-se a concentração de flúor para os 1450 ppm e coloca-se uma porção de pasta semelhante ao tamanho de uma ervilha.
Mas a fraca higiene oral não é o único fator responsável pelos problemas nos mais novos. Hábitos como usar a chucha, chuchar o dedo ou respirar com a boca aberta podem originar uma má oclusão dentária.
Sendo assim, qual a idade ideal para a criança deixar de usar a chucha? “O ideal é nunca usar”, afirma Ana Alves, mas, se isso não acontecer, a dentista aconselha a retirar o hábito o mais cedo possível, no máximo até aos 2 ou 3 anos, para “não interferir com as alterações quer dos dentes quer dos maxilares, porque as crianças estão a crescer e os ossos, em contrapartida, adaptam-se ao uso incorreto da chucha”.
Associada ao alinhamento incorreto dos dentes superiores e inferiores, a mordida cruzada (quando todos ou alguns dentes superiores não envolvem os inferiores, aquando de um sorriso, por exemplo) tem outras consequências, nomeadamente o desgaste, fraturas dos dentes ou mesmo bruxismo.
Se nos adultos o bruxismo está associado a situações de stresse e de ansiedade, no caso das crianças o ranger dos dentes está geralmente relacionado com o desenvolvimento dos mesmos, sendo, portanto, na maioria dos casos, uma patologia temporária. Dores de cabeça frequentes, dores nos músculos faciais e desgaste dentário são alguns dos sintomas mais conhecidos causados pelo bruxismo.
Ao nível ortodôntico – área responsável pela correção dos dentes e ossos maxilares –, recomenda-se que se faça a primeira avaliação a partir dos 6 anos ou quando começam a nascer os primeiros dentes definitivos.
Rita Ramos, médica-dentista especialista em odontopediatria, reconhece que, hoje em dia, por haver “mais informação e uma maior preocupação com a saúde oral”, os pais trazem os filhos mais cedo ao dentista, o que permite diagnosticar e corrigir os problemas precocemente. “Há situações, como é o caso das mordidas cruzadas, que devem realmente ser tratadas o mais cedo possível, porque se agravam com o crescimento”, conclui.
Regras para uma boa higiene oral
► Escovar os dentes, pelo menos duas vezes por dia, durante dois minutos
►Usar uma pasta dentífrica com flúor adequada à idade da criança
► Recorrer ao fio dentário para retirar os restos de comida entre os dentes, onde a escova não consegue aceder
► Ter uma alimentação saudável e equilibrada, limitando o consumo de alimentos e de bebidas açucaradas
► Visitar o dentista com regularidade
Como tratar o bruxismo infantil
Os sintomas mais comuns do apertar ou do ranger os dentes costumam ser as dores de cabeça frequentes, dores nos músculos faciais e o desgaste ou a fratura de dentes. O bruxismo infantil, sendo geralmente temporário e estando associado ao crescimento dentário, acaba por não ser tratado. No entanto, os dentistas aconselham o uso de uma goteira de relaxamento e a fazer fisioterapia, quando os sintomas se intensificam. Estas opções aliviam a dor e previnem problemas maiores.
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