Plasma Rico em Plaquetas. O nome pode soar-lhe muito estranho, mas é provável que comece a ouvir cada vez mais falar sobre este tratamento, em que se recorre ao sangue do próprio doente e que permite, por exemplo, tratar cicatrizes, lesões provocadas por acne, olheiras profundas, rugas finas e combater a calvície, por exemplo, se for aplicado no couro cabeludo. “É uma terapia inovadora e vantajosa que tem apresentado excelentes resultados em diversas especialidades dentro da medicina, incluindo a medicina estética”, explica à VISÃO Ricardo Guilherme, médico especialista em medicina estética e membro da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética (SPME).
As plaquetas, que ocupam, juntamente com os eritrócitos (glóbulos vermelhos) e os leucócitos (glóbulos brancos), quase metade do volume do nosso sangue, com o restante a ser constituído por plasma, são células que “apresentam enormes reservatórios de fatores de crescimento que têm o potencial de acelerar naturalmente o processo de regeneração, cicatrização e crescimento dos tecidos”, afirma o médico. O Plasma Rico em Plaquetas (PRP) é uma parte do sangue com maior concentração de plaquetas e, por isso, tem a capacidade de estimular a produção de novas células na região onde é aplicado.
Mas como funciona, de facto, o processo de obtenção do PRP? Depois de se fazer a colheita de cerca de 15 mililitros de sangue do próprio doente, realiza-se um processo de centrifugação, resultando numa quantidade que varia entre 2 e 7 mililitros com uma concentração 4 vezes superior à do sangue, explica o especialista. A seguir, aplica-se sobre a localização a tratar. “O procedimento tem uma duração de 30 minutos, aproximadamente, e pode ser efetuado ambulatoriamente num gabinete de consulta médica”, esclarece, acrescentando que é “imprescindível que as condições clínicas e laboratoriais sejam favoráveis, ou seja, que seja realizado numa clínica preparada para o efeito e por um médico credenciado e especializado”.
Esta técnica envolve fundamentalmente a separação e concentração das plaquetas com todas as suas propriedades, e é por isso mesmo que é considerada uma fonte autóloga, ou seja, proveniente do próprio doente, de fatores de crescimento. E não, não é dolorosa, garante o especialista. “Neste aspeto, é equivalente a outros tratamentos realizados em medicina estética, como a aplicação de toxina botulínica ou ácido hialurónico. Mas pode ser aplicada uma anestesia tópica, em forma de creme, antes do procedimento, caso o doente sinta algum desconforto”, explica Ricardo Guilherme.
Além disso, não existem grandes cuidados específicos a ter em conta depois de ser realizado o tratamento. “Normalmente, recomendo evitar a exposição solar, o consumo de álcool ou tabaco e a prática de exercício físico intenso durante um período mínimo de 24 horas, de maneira a potenciarmos ao máximo os resultados do tratamento. De resto, o doente pode regressar à sua rotina diária normal”, diz ainda o médico.
E é preciso repetir o processo? De acordo com o especialista, o plano de tratamento habitualmente recomendado inclui sessões a cada 2 a 4 meses, que “podem ser complementadas, de maneira a potenciar os resultados, com outros tratamentos no intervalo entre cada sessão”. Mas tudo depende, como realça, das necessidades do doente e do problema que se está a tratar.
Um tratamento para todos?
Ricardo Guilherme explica que não existem riscos maiores em fazer um tratamento deste tipo (não é tóxico nem cria riscos de reações imunológicas (alergias) ou transmissão de doenças), “já que o produto obtido é oriundo do próprio paciente e não é associado com outros componentes de origem animal ou humana”.
Contudo, deve ser adiado caso haja uma infeção ativa no local a tratar e não deve ser realizado se tiver sido diagnosticado um problema oncológico ativo no momento, alerta o especialista. Os doentes que tenham hemofilia, uma doença do sangue que provoca hemorragias, também não podem ser submetidos a esta técnica de extração de sangue.
Este tratamento tem ganhado grande atenção recentemente, principalmente devido às suas “promessas” de favorecer o rejuvenescimento, ao estimular a renovação e reprodução celular, através da produção de elastina, colagénio e ácido hialurónico, e de oferecer uma pele renovada, hidratada, com maior luminosidade e elasticidade. O facto de poder ser usado em praticamente qualquer região corporal, incluindo rosto, pescoço, decote, dorso das mãos, glúteos, abdómen, mama, ou em terapias capilares, também dá a este tratamento um certo favoritismo.
O seu custo, incluindo o material utilizado, uso de laboratório e técnica especializada, pode variar de 350 a 450 euros, dependendo da zona que se está a tratar, da quantidade necessária e do tipo de procedimento que é aplicado. Mas “deve ser realizada uma consulta médica antes para aconselhamento, este passo é essencial”, alerta Ricardo Guilherme. “É um ato médico e, como tal, o único profissional que pode realizar estes procedimentos é um médico. Procure sempre aconselhamento na área de medicina estética com um médico credenciado e com a devida formação científica especializada”, remata.
Os benefícios potenciais desta técnica têm sido estudados ao longo do tempo também, por exemplo, para o tratamento de outras condições, como problemas musculoesqueléticos, com evidências de diminuição das alterações inflamatórias e da dor e aceleração do processo de regeneração. Um conjunto de investigadores, que fez uma revisão de 11 estudos sobre o papel do PRP em doentes com artrite reumatoide (AR), concluiu que este tipo de tratamento teve resultados promissores, com a equipa a referir que, em estudos em humanos, parece haver uma melhoria na maioria dos resultados clínicos em doentes com AR após a administração de PRP, não tendo sido relatado qualquer efeito adverso grave nos estudos analisados.
Contudo, os investigadores referem que a quantidade e qualidade dos estudos existentes sobre os efeitos e a segurança das injeções de PRP em doentes com artrite reumatoide ainda são escassos e alertam, por isso, para a importância de serem realizados ensaios clínicos completos para definir com clareza o impacto do PRP neste tipo de doentes e se pode ser utilizado com segurança e fiabilidade como terapia adicional para tratar a AR.