Já se sabe que, por menor e menos intensa que seja, a atividade física é benéfica para a saúde em geral. Agora, um estudo em larga escala vem demonstrar que o simples ato de caminhar, nem que seja na realização de tarefas domésticas, diminui o risco de cancro, de enfarte e de mortalidade em geral. Passear o cão, deitar o lixo fora, ir ao café, aspirar a casa, todo o movimento interfere nesta equação.
“O risco de doença cardiovascular e cancro começa a baixar desde o primeiro passo”, afirma o autor principal do estudo, o espanhol Borja del Pozo Cruz, investigador da Universidade do Sul da Dinamarca, em declarações ao jornal catalão La Vanguardia. “Cada passo conta”, enfatiza este cientista comportamental focado em atividade física e saúde pública, para reforçar a ideia de que pouco é melhor do que nada. “Isto é importante para motivar as pessoas a andarem um pouco mais por dia porque, para muitos, o objetivo de dar 10 mil passos por dia pode intimidar”, sublinha.
Essa é a fasquia a partir da qual não foram detetados quaisquer benefícios, segundo o estudo publicado esta semana no jornal científico JAMA Internal Medicine, quanto à redução dos riscos já mencionados. Os 10 mil passos diários (cerca de sete quilómetros) são, por assim dizer, a meta ideal a cumprir. Para tudo o que seja abaixo disso, prevalece a máxima de “quantos mais, melhor”. A título de exemplo, por cada dois mil passos por dia, o risco de morte por cancro diminui 11% e por doença cardiovascular baixa 10%.
A medida dos “passos por dia” foi utilizada pelos autores do estudo por constituir uma forma mais eficaz de motivar as pessoas menos ativas, sem atividades físicas planeadas, a darem maior importância à locomoção. Uma maneira prática de controlar esta atividade é através do telemóvel, no qual facilmente se pode instalar uma aplicação com a funcionalidade de medir passos.
O estudo mediu-os através de acelerómetros de pulso, colocados durante uma semana, entre 2013 e 2015, em 78500 pessoas no Reino Unido. Nos sete anos seguintes, até outubro de 2021, os investigadores monitorizaram os desenvolvimentos na saúde dos participantes. Registaram-se 2179 mortes, 1325 por cancro e 664 por doenças cardiovasculares, e outros 1488 casos de diagnósticos de cancro e 9581 de doenças cardiovasculares. Foram ponderadas variáveis como o consumo de tabaco e de álcool, as horas de sono ou o índice de massa corporal, de modo a atestar que não interferiam com as conclusões.
Na semana anterior, Borja Pozo Cruz e a sua equipa tinham publicado um estudo semelhante, relacionando a quantidade de passos diários com o risco de demência. A principal conclusão é a de que 10 mil passos por dia reduzem para metade a probabilidade de uma pessoa sofrer da doença. Em caminhadas intensas (112 passos por minuto), durante meia hora por dia (consecutiva ou não), o risco de alguém sofrer de demência desde ainda mais (62%).