Joy Milne, uma mulher de 72 anos, garante que o odor do agora falecido marido começou a mudar quando o companheiro tinha 32 anos. “Eu dizia-lhe que ele não estava a tomar banho como deve de ser. E ele ficou muito chateado no início”, conta Milne, à Sky News.
Nessa altura, explica, o odor ia variando e era mais intenso em alguns dias, mas foi-se tornando cada vez mais acentuado, com o passar do tempo. “Ele tinha um cheiro desagradável a mofo, especialmente nos ombros e na nuca, e a sua pele definitivamente mudou”, relembra. “Ele estava um pouco mais cansado, mal-humorado, e eu pensei que pudesse ter um tumor no cérebro”. Aos 44, foi diagnosticado Parkinson a Les Milne, que viria a morrer devido à doença em 2015.
Joy Milne confessa que, mesmo antes de associar o cheiro à doença do marido, já conseguia cheirar certas coisas que os outros não conseguiam. “A minha avó tinha [esta habilidade]”, conta. “É hereditário. As minhas duas irmãs também têm”. A antiga enfermeira, acredita ter uma “biblioteca olfativa”.
Quando o marido foi diagnosticado com a doença, Milne mencionou a mudança no odor a Tilo Kunath, professor e investigador que lidera um grupo de pesquisa sobre Parkinson, na Universidade de Edimburgo, Escócia. Mais tarde, foi iniciado um processo de criar um novo teste de diagnóstico, desenvolvido por investigadores da Universidade de Manchester.
O estudo publicado no Journal of the American Chemical Society explica que, através de uma amostra de pele, os investigadores conseguem ter 95% de precisão, em condições de laboratório, quando se trata do diagnóstico de Parkinson. A equipa analisou a substância oleosa da pele, que foi retirada com um cotonete nas costas dos pacientes, uma área que é menos lavada. Depois, comparou 79 pessoas com Parkinson com um grupo de controlo saudável de 71 pessoas e encontrou mais de 4 mil componentes únicos nas amostras, dos quais 500 eram diferentes entre pessoas com Parkinson e o grupo de controlo. Segundo os investigadores, o teste desenvolvido pode detetar a doença em três minutos.
Milne espera que a doença seja identificada cada vez mais cedo. Atualmente, é “diagnosticada com mais de 50% de danos neuronais”, refere, acrescentando que “o diagnóstico precoce leva a um tratamento muito mais eficiente e a um estilo de vida melhor para estas pessoas.”
“Desenvolvemos [o método] num laboratório de pesquisa e agora estamos a trabalhar com colegas em laboratórios de hospitais para transferirmos o nosso teste para eles, para que possa funcionar em ambiente do NHS [serviço nacional de saúde]”, explica, por seu lado, Perdita Barran, que liderou a investigação. A especialista espera que isso possa acontecer em breve. “Esperamos dentro de dois anos poder começar a testar pessoas na área de Manchester”.