Pesquisas anteriores já sugeriam um maior risco de doenças cardiometabólicas em mulheres com endometriose, sugerindo que os processos cirúrgicos que podem ser necessários para o tratamento agravam o risco de doenças coronárias, como a hipertensão e enfarte do miocárdio, além de levarem ao aumento de colesterol no sangue. Agora, depois de uma análise de dados obtidos de 1989 a 2017, de um total de 112.056 mulheres entre os 25 e 42 anos, um grupo de investigadores norte-americanos detetou também um risco 34% mais elevado de sofrer um acidente vascular cerebral para as pacientes com histórico desta doença ginecológica.
Dentre as correlações encontradas, o risco destacou-se sobretudo em mulheres que tinham sido submetidas à remoção do útero (histerectomia) e/ou dos ovários (ooforectomia) – 39% – dos casos de acidentes vasculares, enquanto a terapia hormonal pós a menopausa representou cerca de 16% do risco aumentado.
O estudo publicado pela American Heart Association teve como objetivo analisar a relação de endometriose com a probabilidade de sofrer AVC isquémico – causado por coágulos sanguíneos que interrompem o fluxo sanguíneo para o cérebro, e hemorrágico, causado por hemorragias no cérebro. No final, foram documentados um total de 893 derrames em mulheres com diagnósticos por exame laparoscópicos e endometriose autorrelatada, mas não foi possível possível verificar se a doença está ou não mais fortemente associada a um tipo específico de AVC.
“Os resultados não indicam que as mulheres com endometriose terão necessariamente um derrame, demonstram apenas uma associação de risco” afirma a autora principal do estudo, Stacey A. Missmer, sugerindo que face aos resultados constatados, o tratamento desta doença deve agora incluir um acompanhamento do corpo todo, tendo também em conta os riscos adicionais.
Apesar de as pesquisas prévias indicarem um maior risco de doenças coronárias em mulheres abaixo dos 40 anos de idade, os investigadores não observaram diferenças na relação entre endometriose e AVC em mulheres com mais de 50 anos. Outras potenciais influências como a infertilidade, índice de massa corporal ou estado da menopausa também não se revelaram como um fator de risco.
A endometriose é uma doença que afeta entre 10 a 20% das mulheres em idade fértil – estima-se que sofram de endometriose entre 200 mil e 230 mil mulheres em Portugal. Trata-se de uma condição inflamatória crónica causada pela presença de tecido endometrial fora do útero, nomeadamente nas trompas ou nos ovários. Os principais sintomas são as dores pélvicas ou menstruais, que muitas vezes passam despercebidas por conta da normalização da dor durante a menstruação.
Apesar de existirem formas de tratamento com medicação, situações mais graves podem exigir os tais procedimentos cirúrgicos que agravam o risco de AVC e doenças coronárias.