Edgar Caetano teve herpes zoster, ou zona, como é frequentemente chamada, em abril de 2020, durante o primeiro confinamento provocado pela pandemia da covid-19, o que dificultou o diagnóstico da doença (saiba mais sobre ela aqui). “O acesso aos cuidados de saúde primários estava muito limitado e havia ainda muito medo de recorrer aos serviços de urgência”, conta à VISÃO o jornalista, agora com 37 anos. O diagnóstico inicial foi feito por uma amiga médica a quem enviou uma foto das lesões que tinha do lado direito do tronco, nas costas e peito, juntamente com uma descrição dos sintomas.
Durante aproximadamente seis meses, a doença foi “altamente incapacitante” para Edgar, desde o diagnóstico até outubro de 2020, altura em que pôde começar a deixar de tomar a medicação para tratar a nevralgia pós-herpética – uma complicação do herpes zoster que afeta os nervos e a pele. “Se não estivéssemos em pleno confinamento e em teletrabalho obrigatório, teria certamente de ficar de baixa pelo menos durante 2 meses, período em que me era impossível vestir roupa no tronco, tal era a dor que a roupa provocava ao tocar na pele. Tomar duche também era uma experiência muito dolorosa, cheguei a ter náuseas de tanta dor”, relembra o jornalista.
“A doença começou por manifestar-se com uma dor localizada, como uma contratura mas mais localizada, como se alguém me tivesse enfiado um berlinde grande entre duas costelas. Passei noites horríveis, em que acordava várias vezes com uma dor lancinante. Só 2 ou 3 dias depois dos primeiros sintomas surgiram as características bolhas, a formar uma faixa que ia do peito às costas. E só aí foi possível fazer o diagnóstico correto”, explica Edgar.
Depois de surgirem as bolhas, e já medicado, as dores agudizaram-se. O jornalista esteve vários dias de cama, sem ter qualuer força para se levantar e, quando tentava, além da falta de força, tinha tonturas e dor que irradiava do tronco para o corpo todo. “Apesar de, aparentemente, a doença se manifestar na pele, na verdade o que é afetado é o nervo e isso provoca dores em todo o tronco e náuseas muito intensas”, diz ainda.
A nível emocional, Edgar explica que foi um período muito “duro” já que a dor o desgatou imenso e impediu-o de manter uma vida relativamente normal. “Não conseguia brincar ou dar colo ao meu filho, na altura com 3 anos, o que também custava muito, sobrecarregando ainda mais a minha mulher com a gestão familiar, numa altura que, já por si, foi muito stressante, sobretudo para quem tem filhos pequenos”, recorda.
Os tratamentos, a permanência dos sintomas e o desconhecimento sobre a doença
Na fase aguda da doença, durante cerca de uma semana, Edgar tomou aciclovir oral para combater o vírus, um medicamento com ação antiviral indicado para o tratamento de infeções provocadas pelo vírus herpes simplex ou herpes zoster. Depois, a nevralgia foi tratada com doses grandes de gabapentina – fármaco usado para aliviar dores provocadas pelos nervos periféricos -, ao longo de vários meses, “até começar um desmame muito lento entre julho e agosto”. Já para ajudar a regenerar o nervo afetado, tomou ácido fólico e um suplemento vitamínico do complexo B, conta. “Todos estes tratamentos não conseguiram evitar que passasse mais de 2 meses com muitas limitações impostas pela dor e mais 3 ou 4 meses com limitações menos graves mas ainda assim significativas. Ainda hoje, passados 2 anos, sinto que a zona afetada ainda tem uma sensibilidade estranha e uma espécie de formigueiro. Duvido que algum dia volte ao normal”, desabafa.
Edgar Caetano diz ainda que, devido ao seu “próprio desconhecimento da doença” antes de passar por ela, assim como dos seus amigos, pensa não existirem “campanhas informativas organizadas” suficientes. “Isto parece-me errado, na verdade, porque não se explica às pessoas que a doença é aguda mas pode ser altamente incapacitante, ao longo de muito tempo, pelo nível de dor que provoca. Sendo agora possível preveni-la, quem puder, deve fazê-lo”, alerta.