Com a pandemia de Covid-19, as reuniões de empresas começaram a ser online e essa tendência parece ter vindo para ficar, mesmo com a diminuição das restrições e o regresso presencial aos escritórios.
De acordo com uma nova investigação, que realizou um estudo de campo numa grande empresa, além de experiências em laboratório que, ao todo, envolveram mais de 600 pessoas, os encontros via Zoom, empresa que fornece um serviço de reuniões online, não são tão produtivas no que diz respeito à criatividade.
A investigação, publicada recentemente na revista científica Nature, começou a ser realizada antes da pandemia por Melanie Brucks, professora de marketing na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, EUA, e por Jonathan Levav, também professor de marketing na Stanford Graduate School of Business, na Califórnia, quando perceberam que havia dificuldades em inovar com os funcionários que trabalhavam remotamente nas empresas. Inicialmente, Melania Brucks pôs de lado a hipótese de esses problemas se deverem às reuniões por videoconferência.
Para perceber as verdadeiras razões, a equipa colocou os voluntários em duplas com o objetivo de realizarem uma tarefa de criatividade em conjunto – ou juntos na mesma sala ou virtualmente, através do Zoom. O que os pares tiveram de fazer foi, em cinco minutos, descobrirem diferentes formas criativas de usarem o Frisbee, objeto em forma de disco utilizado em diferentes jogos, ou o plástico de bolhas, utilizado para proteger os materiais. Depois disso, tiveram um minuto para escolherem a melhor ideia.
Foram júris independentes do estudo que definiram as ideias mais e menos criativas, sendo que, no geral, as duplas que trabalharam via Zoom tiveram 20% menos ideias criativas do que as que se encontraram pessoalmente.
Reuniões 100% presenciais?
Numa outra parte do estudo, a equipa analisou ideias relacionadas com novos produtos dadas por quase 1500 engenheiros em Portugal, Finlândia, Hungria, Índia e Israel para uma empresa multinacional, que também foram aleatoriamente agrupados em dois.
As equipas tiveram cerca de uma hora para debater e selecionar a melhor ideia sobre determinados produtos pessoalmente ou por videochamada, através da Webex, que também fornece um serviço de reuniões online, e os investigadores tiraram a mesma conclusão: ao se encontrarem pessoalmente, os engenheiros tiveram mais e melhores ideias. Contudo, os investigadores perceberam que as as equipas que se encontraram virtualmente foram tão boas a selecionar as melhores ideias de um grupo como as outras.
De acordo com os investigadores, estes resultados podem ter a ver com o facto de, nas reuniões por videochamada, as pessoas estarem focadas no ecrã e no rosto da pessoa do outro lado, o que pode limitar o pensamento criativo, já que, segundo Brucks, “o foco visual é um grande componente do foco cognitivo”. “É excecionalmente mau para a criatividade porque está a inibir uma exploração mais ampla”, acrescenta a especialista, citada pelo The Guardian.
Este estudo, que merece mais investigação e desenvolvimentos, significa que é melhor que as reuniões passem a ser sempre presenciais? Brucks refere que uma solução para que isso não tenha de acontecer é que as pessoas deixem algumas das tarefas mais criativas para reuniões presenciais ou, até, que desliguem a câmara ao apresentarem as suas ideias. “Acho que isso desbloqueia o pensamento mais criativo”, remata.