Um novo estudo publicado na revista Antioxidants defende que os protetores solares e cremes antienvelhecimento encontrados atualmente no mercado poderiam ser mais eficazes, se ponderassem melhor a presença de um ingrediente-chave: antioxidantes. Este ingrediente corresponde a um tipo de moléculas encontradas na natureza capazes de inibir a oxidação de outras moléculas.
Quando em moderação, a luz solar tem muitas vantagens para o ser humano, entre elas o estímulo da produção de vitamina D, essencial a várias atividades do corpo humano, o estímulo da produção de melanina ou a prevenção de um conjunto vasto de doenças, incluindo de foro psicológico. O sol prova-se, por isso, importante à manutenção da saúde humana. No entanto, uma exposição exagerada pode constituir um risco, razão pela qual a ciência incentiva ao uso de protetor solar, nomeadamente nas horas de maior calor, entre as onze da manhã e as quatro da tarde.
Uma exposição prolongada ao sol pode ser a causa de múltiplos danos na pele, incluindo envelhecimento precoce e cancro da pele. “A exposição à luz solar também tem sido um dos principais contribuintes para o fotoenvelhecimento extrínseco da pele”, realça o estudo. Tal acontece porque a radiação solar é responsável por desregular o sistema celular que assegura o balanço dos níveis de ferro no corpo. Embora importante para o bom funcionamento do organismo, o ferro pode ser prejudicial para as células humanas quando se encontra em excesso ou em falta. Para combater o perigo de tal acontecer, as células são dotadas de um sistema conhecido como homeostase, que lhes permite ajustar os níveis de ferro, mantendo-os num estado de equilíbrio. Quando afetado pelas radiações solares, esse equilíbrio é interrompido e resulta nos problemas médicos referidos.
O envelhecimento cronológico também contribui para um desequilíbrio nos níveis de ferro, especialmente nas mulheres após a menopausa, o que significa que pessoas mais velhas (particularmente mulheres mais velhas) são mais vulneráveis aos efeitos nocivos do sol.
O ferro assume-se em dois formatos no corpo: ferro livre ou ferro armazenado. O ferro armazenado corresponde aos níveis de ferro saudáveis naturalmente presentes no corpo humano. O ferro livre “é o tipo mais perigoso de ferro”, nomeadamente porque “pode causar danos oxidativos aos órgãos, nutrir bactérias nocivas, alterar o ADN ou ajudar a espalhar o cancro”, como explica o Iron Disorders Institute, uma agência de saúde focada em doenças causadas por níveis desregulados de ferro.
Como pode o protetor solar proteger ainda mais?
O protetor solar e os produtos antienvelhecimento vêm responder à necessidade de contornar estes efeitos do sol. Os protetores solares, por exemplo, ocupam-se de bloquear ou absorver os raios ultravioleta emitidos pelo Sol, evitando que estes afetem o processo da homeostase. No entanto, em lugar de controlar os níveis de ferro, o protetor solar é responsável apenas por diminuir o número de radicais livres que são criados na pele. Os radicais livres correspondem a moléculas instáveis que, juntamente com níveis desregulados de ferro, causam danos e o envelhecimento da pele, num processo conhecido como stresse oxidativo.
O recente estudo explora a relação entre os radicais livres e os níveis de ferro, procurando perceber como os protetores solares e cremes antienvelhecimento podem beneficiar se considerarem também o papel do ferro e não apenas o dos radicais livres. Para Charareh Pourzand, a investigadora que liderou a pesquisa do Departamento de Farmácia e Farmacologia e do Centro de Inovação Terapêutica da Universidade de Bath, as fórmulas atuais “precisam de se adaptar e melhorar”.
Quando considerado o contributo do ferro e a sua interação com os radicais livres, surgem novas soluções para os malefícios da radiação solar, nomeadamente os antioxidantes. A pesquisa de Pourzand indica que estas moléculas são capazes de eliminar o excesso de ferro no organismo. “Ao incluir esses potentes antioxidantes em produtos para o cuidado da pele e fórmulas de protetores solares e, dessa forma, reter o ferro livre, podemos esperar obter um nível sem precedentes de proteção contra o sol”, explica a investigadora.
No estudo, Pourzand incentiva os fabricantes de produtos como protetores solares ou cremes antienvelhecimento a analisar mais atentamente as oportunidades de incluir não apenas antioxidantes, já presentes nas fórmulas de muitos protetores solares, mas antioxidantes capazes de reter o ferro livre. Vários extratos naturais que regulam o ferro já foram identificados no laboratório da Universidade de Bath, entre eles vários compostos botânicos, fúngicos e marinhos como extratos de determinados vegetais, frutas, nozes, sementes, cascas e flores.
As experiências realizadas pela equipa de Pourzand, uma delas contando com a participação de 44 indivíduos saudáveis sujeitos à proteção não apenas do protetor solar, mas também de antioxidantes, “confirmaram as potentes propriedades AO (antioxidantes) desses ingredientes na formulação do filtro solar, uma vez que tanto a pigmentação da pele como a degradação do colágeno dérmico (importante constituinte da pele) foram significativamente diminuídas. Isso foi acompanhado por uma melhoria significativa na elasticidade da pele (essencial no combate ao envelhecimento) após 84 dias de tratamento, quando comparado com o grupo de controlo que foi tratado apenas com a fórmula do protetor solar”.
Ainda assim, e apesar das suas descobertas, Pourzand diz ser necessária mais pesquisa antes de qualquer destes compostos antioxidantes se tornar adequado para fins comerciais. “Embora os antioxidantes que identificámos funcionem bem em condições de laboratório, eles não permanecem necessariamente estáveis depois de adicionados a um creme”, explica a investigadora. “Esses extratos vêm de plantas e certos fatores ambientais afetam a sua estabilidade e eficácia a longo prazo – qualquer coisa desde a estação em que são cultivados, tipo de solo, latitude e época de colheita podem alterar a eficácia com a qual eles conseguem neutralizar os radicais livres e reter o ferro.”
“Há também uma clara necessidade de realizar mais ensaios clínicos para determinar o nível de absorção da pele, irritação, o perfil genético e fototoxicidade, bem como o teor de alérgenos (dos antioxidantes naturais) em diferentes populações. Adicionalmente, o uso de compostos naturais extraídos dos extratos vegetais exigiria etapas de purificação adequadas para diminuir a toxicidade causada por impurezas devido a metodologias de extração deficientes”, esclarece ainda o estudo.
“O que é necessário agora é que os produtos químicos bioativos nesses extratos sejam padronizados – quando isso acontecer, eles podem e devem ser adicionados a produtos projetados para proteger a pele do envelhecimento”, acrescenta Pourzand.
O estudo chama ainda a atenção para a necessidade de os protetores solares tornarem mais abrangente a sua proteção contra a radiação solar. “Até há pouco tempo, a suposição geral era que a UVB e a UVA (dois tipos de radiação ultravioleta) eram as principais radiações responsáveis pelos efeitos nocivos da luz solar na pele humana. Como resultado, a maioria dos estudos fotobiológicos na pele humana concentraram-se no espectro UV e especialmente nos comprimentos de onda UVB de ondas curtas. No entanto, há agora um crescente corpo de evidências sugerindo que tanto o VIS (luz visível) como o infravermelho próximo (IRA, 770-1400 nm) também são capazes de danificar a pele humana”, indica o estudo. Apesar de alguns protetores solares já alegarem ter uma proteção mais ampla no espectro de radiação solar, a equipa de Pourzand acredita que “a região espectral do UVA1/VIS (375-415 nm) ainda é negligenciada e a maioria dos protetores solares atuais não possui proteção adequada contra essa região da luz solar”. As moléculas antioxidantes podem ser também importantes no combate contra radiações no espectro UVA.
O uso de compostos naturais, como é o caso dos antioxidantes propostos pela equipa de Pouzand, não só poderá ser benéfico para a saúde humana como acompanha uma crescente demanda do público por um mercado mais sustentável e menos dependente de compostos químicos. “O uso de extratos naturais com propriedades de absorção de UV também está a substituir gradualmente os compostos sintéticos como agentes de proteção solar, devido a uma demanda global por compostos ambientalmente corretos e seguros, sem efeitos nocivos sobre a vida marinha e dos indivíduos”, refere o estudo.