Dois meses depois da cirurgia inovadora, David Bennett, o primeiro homem a ser submetido a um transplante de coração de porco morreu, anunciou esta quarta-feira o hospital Maryland, onde foi efetuada a cirurgia.
Bennet, de 57 anos, diagnosticado com insuficiência cardíaca e batimentos cardíacos irregulares, foi, no passado dia 8 de janeiro, sujeito a um transplante de coração considerado um marco científico por se tratar do primeiro coração de porco alguma vez ligado ao organismo humano. O paciente estava acamado e em suporte de vida e era um dos candidatos à cirurgia inovadora por ser ilegível para um coração humano e, segundo os seus médicos, ter um histórico de não cumprir as instruções médicas, diz a ABC News.
A causa da morte não foi confirmada pelo hospital, que partilhou apenas que a sua condição tinha vindo a piorar alguns dias antes. Bennet estava ciente dos riscos envolvidos quando concordou fazer parte da experiência, assegurou o seu filho David Bennett Jr num comunicado lançado pelo hospital.
Num agradecimento aos médicos e ao próprio hospital, o filho do paciente acrescentou: “Estamos gratos por cada momento inovador, cada sonho maluco, cada noite sem dormir que entrou neste esforço histórico”. Apesar do desfecho, Bennet Jr prezou o tratamento dado ao pai, acrescentando que esperava que se tratasse do “começo de uma história de esperança e não do fim”.
A ideia de usar órgãos de animais em transplantes humanos não é de agora, mas foi mais recentemente que se têm vindo a desenvolver uma maior quantidade de estudos e experiências na área . Em janeiro deste ano, um estudo publicado no American Journal of Transplantation anunciou que dois rins de um porco geneticamente modificado foram transplantados, com sucesso, para o corpo de um humano que estava em morte cerebral, uma operação semelhante a uma cirurgia levada a cabo em 2021.
Entre as possíveis causas de morte que se seguem a este tipo de intervenção estão o risco de rejeição do órgão por parte do corpo humano e o risco de infeção. Bennet durou cerca de mais um mês do que a última cirurgia semelhante realizada em 1984, quando uma criança nos corredores da morte viveu 21 dias com o coração de um babuíno.
O porco foi modificado para que fossem removidos os genes responsáveis pela rejeição do órgão e adicionados genes humanos que ajudassem na sua aceitação por parte do corpo humano. Inicialmente, o coração de porco parecia estar a funcionar no sistema de Bennet e, de acordo com os comunicados periódicos do hospital Maryland, o paciente parecia estar a recuperar.
“Estamos devastados pela perda do Sr. Bennett. Ele provou ser um paciente corajoso e nobre que lutou até o fim”, disse Bartley Griffith, que realizou a cirurgia, num comunicado. Apesar do desfecho do esforço adjetivado pelo filho de Bennet como “histórico”, e segundo o diretor científico do programa de transplante de animais para humanos da universidade de Maryland, Muhammad Mohiuddin, a morte do paciente não foi em vão, até porque “ganhamos informações valiosas ao aprender que o coração de porco geneticamente modificado pode funcionar bem dentro do corpo humano enquanto o sistema imunológico é adequadamente suprimido”, explica.
O recurso a órgãos de animais em transplantes humanos vem também em resposta à falta de órgãos humanos existentes para este tipo de intervenção. No ano passado, foram realizados nos EUA, local onde a cirurgia em causa foi realizada, 41 mil transplantes e entre eles mais de 3 mil foram corações. Ainda assim, mais de 100 mil pessoas continuam em lista de espera para receberam um órgão, sendo que algumas não são se quer consideradas para candidatas.
A produção de porcos geneticamente modificados já é um negócio desenvolvido por várias empresas por ser uma tecnologia que se pode provar chave para os xenotransplantes, processo de transferir cirurgicamente um tecido de uma espécie para outra espécie distinta.