1. O que é esta doença?
A perturbação bipolar consiste numa doença psiquiátrica caracterizada por oscilações do humor. Esta oscilação varia, então, entre o humor depressivo e o seu extremo oposto, a mania.
2. Porque surge?
Pode surgir devido a fatores genéticos e biológicos, como alterações neurológicas de determinados neurotransmissores. No entanto, não se podem excluir variáveis como a personalidade, o stresse, fatores específicos e suficientemente destabilizadores na vida do paciente, que terão um peso deveras importante para o seu surgimento.
3. Como varia o humor?
Podendo a bipolaridade ser uma perturbação variável na forma como se exprime, à partida o mais evidente será num estado maníaco observar-se um humor elevado e expansivo, irritável e eufórico, até. Uma euforia descontextualizada, despropositada e sem fundamento real. Nesta fase, a pessoa em causa poderá sentir-se mais alegre, sociável, faladora e confiante do que é habitual. Este estado de humor é muitas vezes interpretado como uma fuga inconsciente ao estado depressivo, uma vez que o polo depressivo é doloroso, introspetivo, angustiante e sofrido.
4. O doente tem consciência do seu estado real?
Um pouco como em todas as perturbações psicológicas e psiquiátricas, nem sempre é fácil para a pessoa em questão ter consciência do seu estado real. Por vezes, são as pessoas com quem ela se dá com mais regularidade, familiares e amigos, que detetam com maior rapidez alterações nos estados emocionais e em certos comportamentos. O suporte social é, sem dúvida, um dos elementos fundamentais na contenção e na orientação desta perturbação.
5. Como se pode tratar?
Uma das terapêuticas mais utilizadas é a farmacológica, com estabilizadores de humor, antidepressivos e/ou antipsicóticos. A dificuldade em encontrar o fármaco ideal, bem como a dosagem certa, revela-se um processo, por vezes, complicado e moroso. É essencial um acompanhamento psicoterapêutico, com vista à contenção dos efeitos secundários da medicação, assim como forma de determinar a possível causa para o aparecimento desta perturbação. É fundamental que seja feito o despiste do possível estímulo desencadeante, o evento traumático e condicionante na vida desta pessoa com vista a neutralizá-lo, ressignificá-lo. O sucesso no tratamento e na contenção dos sintomas desta perturbação depende maioritariamente da consistência e da qualidade destes dois tipos de intervenção.
6. Qual a maior dificuldade dos doentes?
Consiste em saber lidar com as próprias variações de humor. Trata-se de uma instabilidade emocional de tal forma avassaladora que se torna muito difícil manter consistente qualquer tipo de comportamento. Assim sendo, uma das primeiras consequências é o prejuízo nas relações interpessoais. Por vezes, pela falta de conhecimento ou até de empatia por parte das pessoas que rodeiam o paciente, torna-se difícil para estas saber lidar com a perturbação, o que as leva a optar pelo afastamento. Infelizmente, esta é uma realidade que pode ocorrer com qualquer perturbação psicológica e é, sem dúvida, esta realidade que alimenta o preconceito. Por isso muitas vezes, é comum ouvir-se falar que pessoas com perturbação bipolar não conseguem manter uma relação nem um trabalho. É urgente perceber que este estigma, estes rótulos podem prejudicar a melhoria do paciente, enviesando toda a sua vida.
É difícil lidar com as próprias variações de humor. Uma das primeiras consequências é o prejuízo nas relações interpessoais do doente
Catarina Graça
Psicóloga e psicoterapeuta na Clínica da Mente
7. Quanto tempo duram as crises?
A duração varia bastante. O paciente pode estar em fase maníaca ou depressiva durante alguns dias ou durante vários meses. Os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos.
8. É possível o doente prever a alteração do humor?
Nalguns casos é possível. Mas a previsão varia consoante o caso clínico, uma vez que alguns pacientes têm uma ou duas crises em toda a vida e outros recaem, por repetidas vezes, em certas alturas do ano, caso não estejam a beneficiar de um tratamento coeso e monitorizado. Noutros casos, podem registar-se os chamados ciclos rápidos em que o paciente pode ter mais do que quatro crises por ano.
9. Em que idade costuma surgir a doença?
Tendo em conta que existem variações dentro do espectro da bipolaridade, esta perturbação pode surgir durante a adolescência ou alguns anos após a adolescência, sendo pouco comum o surgimento na infância.
10. É possível ter-se uma vida normal?
É possível o retorno à normalidade assim que esteja a ser administrada a terapêutica certa, com a periodicidade regulada. No entanto, devido às consequências acentuadas que estas crises podem trazer, no campo social, familiar e individual, a vida do paciente pode complicar-se, dificultando a sua capacidade de adaptação e de autonomia. Com vista a manter a sua vida o mais estabilizada possível e evitando, assim, o surgimento de recaídas e a desregulação neurotransmissora, poderá ser necessário que o paciente mantenha a terapêutica farmacológica mesmo que em dosagens mais leves. E, sem dúvida, é fundamental a manutenção do acompanhamento psicológico de longo prazo.
11. A doença pode implicar internamento?
Dependendo do tipo de bipolaridade, poderá ser necessário o internamento com vista à proteção do próprio paciente, uma vez que a percentagem de ideação suicida ou tentativas de suicídio neste tipo de perturbação é 15 vezes superior à da população em geral. De referir ainda que, por vezes, são registados casos clínicos em que prevalecem o pensamento delirante e as alucinações, tornando-se fundamental que o paciente possa, então, ser submetido ao internamento com vista à contenção de crises. Felizmente, existem casos clínicos que nunca necessitam desta intervenção.
Sinais de alerta
Tenha em conta uma escala de ligeiro, moderado e extremo, Catarina Graça diz que se se identificar de forma moderada ou extrema cinco ou mais destes sintomas, deve procurar ajuda
1. Humor elevado/eufórico
Visão desapropriada do mundo em geral, acompanhada de um extremo bem-estar e/ou riso descontextualizado.
2. Irritabilidade/agressividade
Perda fácil de paciência e de calma em que a irritabilidade considerada extrema pode até dar origem a episódios de violência.
3. Pressão para falar
Dificuldade em parar de falar.
4. Pensamentos acelerados
Discurso apresenta mudanças bruscas de tópicos.
5. Distração
Impossibilidade em focar a atenção num estímulo.
6. Grandiosidade
Autoestima desproporcional e surgimento de delírios de grandeza.
7. Sono
Três a cinco horas a menos de sono do que o usual.
8. Energia excessiva
Maiores níveis de energia do que o habitual.
9. Alucinações
Convicção na veracidade do seu pensamento com delírio e/ou alucinações.
10. Insight
Atribuição da causa da mudança de comportamento a fatores externos, por vezes, com negação acerca da necessidade de ajuda/tratamento.