Uma equipa de investigadores da Universidade de Oxford desenvolveu um teste sanguíneo que pode potencialmente melhorar o diagnóstico e tratamento de doentes com cancro. Trata-se de uma análise ao sangue capaz de detetar cancro em pacientes com sintomas não específicos, como fadiga ou perda de peso inexplicáveis.
Se aprovado, o teste pode ajudar a identificar muitos pacientes de cancro mais cedo, o que será crítico para conseguir providenciar-lhes o melhor tratamento possível.
No estudo, publicado na revista Clinical Cancer Research, a equipa de investigadores analisou amostras de 300 pacientes com sintomas não específicos de cancro, tais como fadiga e perda de peso. As análises que desenvolveram detetaram o cancro em 19 em cada 20 pacientes que tinham a doença.
O teste pode também distinguir entre pacientes com cancro localizado ou em fase de metastização – quando o cancro se começa a espalhar para outros órgãos do corpo – com 94% de precisão. Esta característica faz com que seja o primeiro teste sanguíneo capaz de detetar se o cancro se metastizou sem saber o tipo de tumor que o paciente tem.
Atualmente, os doentes a quem é diagnosticado cancro têm de se submeter a exames de imagiologia e outros testes para definir se o cancro entrou em fase de metastização. Para estes pacientes, serão necessários tratamentos de corpo inteiro como quimioterapia ou terapia hormonal – enquanto que nos casos de cancro localizado os pacientes podem ser submetidos a tratamentos locais como a cirurgia de remoção do tumor.
Por esta razão, o teste pode conferir informação crítica que “muda a forma como se trata os pacientes” e ajudar os médicos a decidir que tratamento administrar, segundo James Larkin, investigador da Universidade de Oxford e principal autor do estudo.
Este novo teste poderá ajudar também a eliminar um problema atual com muitos diagnósticos de cancro: muitas vezes, pacientes que são examinados por médicos de clínica geral com sintomas aparentemente inexplicáveis não são, muitas vezes, referenciados para uma investigação mais aprofundada, e só voltam a procurar ajuda quando os sintomas são mais graves, e o cancro já se encontra num estágio mais avançado – em que não é tão suscetível de responder a tratamentos como numa fase inicial.
“O problema que tivemos no passado é que se os pacientes têm cancro, esse cancro está sempre a crescer, e quando voltam os cancros estão muitas vezes bastante avançados”, explica Larkin.
“O diagnóstico precoce do cancro é fundamental para melhorar os resultados dos doentes, mas os cancros podem ser difíceis de diagnosticar se os doentes apresentarem sinais e sintomas não específicos”, referem os cientistas, que desenvolveram previamente um estudo em que demonstraram que a mesma tecnologia teve sucesso em identificar cancro em animais.
O novo teste utiliza uma tecnologia chamada espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RNM), que analisa a presença de pequenas moléculas chamadas metabólitos no sangue. A diferenciação entre o padrão destas moléculas em indivíduos saudáveis e pacientes com cancro localizado ou metastásico ajudam os médicos a fazer o diagnóstico correto.
Esta tecnologia pode ainda consubstanciar uma via de diagnosticar outras doenças além do cancro, diz Larkin.
“Só agora estamos a começar a compreender como os metabólitos produzidos por tumores podem ser utilizados como biomarcadores para detetar o cancro com precisão”, explica. “Já demonstrámos que esta tecnologia pode identificar com sucesso se os doentes com esclerose múltipla estão a progredir para as fases posteriores da doença”.