A forma como uma grávida deve alimentar-se e os alimentos que pode ou não consumir ainda deixam muitas dúvidas, por toda a informação, muitas vezes errada, que é dada a estas mulheres, mas também por mitos e crenças populares que ainda não foram desconstruídos. “Se por um lado a grávida quer dar os melhores nutrientes ao seu bebé, por outro vê-se num emaranhado de informação contraditória que a pode levar a tomar decisões menos corretas”, começa por dizer à VISÃO Virgínia Marques, nutricionista e especialista em nutrição materno-infantil.
É importante, explica a nutricionista, ter em conta o “período de ouro” dos bebés, que corresponde aos primeiros mil dias do ser humano e começa no momento da fecundação, terminando no segundo ano de vida. Isto porque a ingestão ideal de nutrientes durante os primeiros mil dias vai ajudar a manter a saúde do bebé a longo prazo e a evitar doenças, esclarece a especialista.
Um dos grandes impactos da alimentação nos bebés é ao nível do desenvolvimento neurológico, “extremamente exigente durante a gravidez”, explica Virgínia Marques. “As células nervosas proliferam a um ritmo muito rápido, especialmente durante o desenvolvimento fetal precoce. Esse crescimento é dependente de nutrientes como ferro, ácido fólico, colina, iodo e ómega 3. Sabe-se também que o défice de ácido fólico pode desencadear defeitos no tubo neural e síntese de DNA”, afirma.
Evidências recentes têm sugerido que a ingestão correta de colina, vitamina do complexo B, durante a gravidez e a lactação – a produção de leite por hormonas nas glândulas mamárias – pode ter efeitos neurocognitivos benéficos a longo prazo para o bebé.
“Os carotenoides, a luteína e a zeaxantina desempenham papéis importantes durante o desenvolvimento do olho e cérebro, acumulando-se no olho dos fetos desde as 17 a 22 semanas de gestação”, esclarece ainda, acrescentando que o défice de magnésio tem forte associação ao aparecimento de pré-eclampsia na gestação, uma complicação grave caracterizada por pressão arterial elevada e, em muitos casos, concentrações elevadas de proteínas na urina. Também a pouca ingestão de vitamina C pode provocar um défice de crescimento do bebé ou parto prematuro, diz ainda a especialista.
Mas se, por um lado, o défice de nutrientes pode prejudicar o bebé, também o consumo excessivo de açúcar, gorduras hidrogenadas e adoçantes pode promover um ambiente intrauterino pouco saudável e aumentar o risco de desenvolver doenças. “Vários estudos associam o alto consumo de açúcar e gorduras trans a complicações na gravidez e a uma maior predisposição ao aparecimento de doenças inflamatórias no bebé, de diabetes, alergias e intolerâncias, por exemplo”, afirma Virgínia Marques.
Os alimentos mais e menos recomendados durante a gravidez
“Quando se pensa em alimentos recomendados para grávidas, falamos sempre de soluções fornecedoras de nutrientes, como as frutas, vegetais, carnes magras, ovos, frutos secos, sementes, laticínios e cereais integrais, por exemplo. A distribuição e conjugação destes alimentos ao longo do dia e nas quantidades certas é muito importante”, esclarece Virgínia Marques.
Em relação aos alimentos proibidos, na prática, a única substância proibida na gravidez é o álcool, esclarece a especialista. Mas há vários alimentos desaconselhados pelo seu alto risco de contaminação ou pelo baixo valor nutricional: laticínios feitos com leite não pasteurizado, ovos crus, carnes mal passadas, vegetais e frutas mal higienizadas e ainda os alimentos altamente processados, como as bolachas, biscoitos, bolos, chocolates e refrigerantes, por exemplo.
A especialista alerta ainda para a possibilidade de os longos períodos de jejum poderem afetar o desenvolvimento do bebé. “Do mesmo modo que comer por dois não está indicado, saltar refeições e expor-se a um défice calórico também é desaconselhado”, remata.