Com a nova variante Ómicron a espalhar-se muito rapidamente, sobretudo no tecido bronquial humano – multiplica-se cerca de 70 vezes mais depressa do que a versão original do coronavírus e a variante Delta – todas as vacinas estão a ser revistas, testadas e potenciadas para combater esta estirpe em concreto. Altamente contagiosa, em Portugal já representa 20% das novas infecções do SARS-CoV-2 e estima-se que, esta semana, a sua prevalência aumente para 50% e que passe para 80% na semana do final do ano.
Novos resultados da Moderna indicam que uma dose de reforço da sua vacina aumenta significativamente o nível de anticorpos que podem travar a variante Ómicron. A dose de reforço atualmente autorizada de 50 microgramas – metade da dose dada para a imunização primária – aumentou o nível de anticorpos em cerca de 37 vezes. Já uma dose completa de 100 microgramas foi ainda mais potente, aumentando os níveis de anticorpos em cerca de 83 vezes em comparação com os níveis de pré-reforço, anunciou a empresa esta segunda-feira, 20, apesar de este estudo, feito com testes de laboratório, ainda não ter sido publicado ou revisto pelos pares científicos.
Ambas as fórmulas produziram efeitos secundários semelhantes aos observados após a toma das duas doses iniciais da vacina. Mas, a dose de 100 microgramas mostrou reações adversas ligeiramente mais frequentes em relação à dose autorizada de 50 microgramas.
A Moderna testou esta terceira dose em várias versões, cada uma em 20 pessoas. Antes do reforço, todos os indivíduos apresentavam níveis baixos de anticorpos que pudessem prevenir a infeção por Ómicron. Mas, após receberem uma terceira inoculação, as doses de 50 microgramas e 100 microgramas da vacina atual aumentaram drasticamente os níveis de anticorpos. A empresa também testou shots de reforço com múltiplas valências, que incorporam mutações detetadas nas variantes Beta e Delta, muitas das quais também estão presentes na Ómicron. Cada um desses testes contínuos tem entre 300 e 600 pessoas inscritas. As doses de 50 microgramas e 100 microgramas dos reforços “multivalentes” aumentaram os níveis de anticorpos para níveis igualmente elevados.
Os esforços da empresa farmacêutica norte-americana estão concentrados a curto prazo para as doses de reforço da vacina original, além de planearem testar uma dose de reforço específica para a variante Ómicron no início de 2022 e incluir a Ómicron num reforço “multivalente”.
Vacinas mRNA no reforço da Janssen
Também dos Estados Unidos da América, através do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, chega a recomendação para que a dose de reforço de quem tomou a vacina contra a Covid-19 da Johnson & Johnson, que utiliza vetores virais (adenovírus), seja inoculado com outra vacina feita com a tecnologia mRNA. Em causa estão preocupações sobre o aumento da incidência de uma condição rara, mas potencialmente grave de coagulação do sangue entre aqueles que receberam a vacina da Janssen, agora relacionado a dezenas de casos e pelo menos nove mortes nos Estados Unidos, em 2020.
Novos dados mostram que há um risco maior para situações de coagulação do sangue do que era conhecido antes. O risco era superior entre mulheres dos 30 aos 49 anos, estimado em um para cem mil que tinham recebido a vacina da Johnson & Johnson. Em Portugal, a vacina da Janssen inicialmente foi dada só a homens e mulheres a partir dos 50 anos e, mais tarde, passando a exclusiva para os homens a partir dos 18 anos.
No entanto, esta vacina não vai ser retirada do mercado. Aliás, a Food and Drug Administration, agência americana reguladora do medicamento, reiterou que os benefícios superam os riscos. A vacina da Janssen continuará a ser uma opção para quem não quer receber as doses das vacinas Moderna ou Pfizer-BioNTech.
Cerca de 16 milhões de pessoas nos EUA receberam a vacina da Johnson & Johnson, um número bastante inferior aos 73 milhões totalmente imunizados com a vacina da Moderna e os 114 milhões com as injeções da Pfizer-BioNTech. Entre os norte-americanos que receberam reforço, apenas 1,6% escolheram a Johnson & Johnson. Por cá, entre as mais de 2,3 milhões de doses de reforço que foram administradas até sábado, 18, incluem-se os 250 mil utentes inoculados com a vacina de toma única da Janssen.
Nesta altura já são conhecidos estudos que indicam que passados três meses da toma da vacina da Janssen, a sua proteção diminui de 67% (eficácia observada duas semanas após a toma) para metade ou menos. Mas, com o reforço, que terá de ser feito obrigatoriamente com uma vacina de mRNA, a proteção subirá para níveis semelhantes aos de vacinas como a da Pfizer e da Moderna, isto é, acima de 80 por cento. Uma mais-valia da mistura de dois tipos diferentes de vacinas (vacinação heteróloga), uma combinação que também poderá ser útil para contrariar a escassez de vacinas.