- O que é?
As pessoas diferem na distribuição dos depósitos do excesso de gordura. Seja qual for o seu tipo corporal, o excesso de gordura não é saudável. Na maioria das pessoas 90% da gordura é subcutânea, ou seja, encontra-se imediatamente por baixo da pele e é visível e palpável; os restantes 10% dizem respeito à gordura visceral ou intra-abdominal. Esta gordura encontra-se no interior do abdómen, envolvendo os orgãos, ou mesmo integrando a sua estrutura, como é o caso fígado (esteatose hepática), no omento – espécie de avental de gordura situado imediatamente atrás da parede abdominal – e nos mesentérios, onde correm os vasos sanguíneos dos intestinos.
Não existe maneira de determinar com exatidão a gordura visceral sem recorrer a técnicas complexas. A forma mais simples de ter uma ideia aproximada é a medida da circunferência abdominal, ao nível do umbigo. Segundo a OMS, os riscos de doença aumentam a partir dos 80 cm para as mulheres e 94 cm para os homens europeus.
- Quais as causas?
Em condições de balanço energético positivo, os indivíduos que têm mais tendência a engordar, depositam mais energia no tecido adiposo, enquanto que os que têm menos dirigem-na para oxidação no músculo e outros tecidos. Esta tendência genética é determinante, mas pode ser contrariada.
Por outro lado, o nosso comportamento alimentar, que também é determinado em grande parte pela genética, influencia muito o aumento da gordura visceral. Neste aspeto intervém também a cultura local e familiar e a relação de cada um com os alimentos.
- Quais os riscos?
Qualquer tipo de gordura em excesso é prejudicial para a nossa saúde. De facto, as células gordas funcionam como uma espécie de glândulas secretoras de hormonas. Para além de contribuírem para um aumento dos níveis de colesterol, as células da gordura visceral segregam múltiplas substâncias ligadas ao aparecimento de múltiplas doenças. Algumas dessas substâncias, chamadas mediadores inflamatórios, induzem um estado de inflamação crónica que é prejudicial à saúde.
Porém, muitos dados suportam a noção de que a gordura localizada no abdómen está associada a um risco maior de consequências nocivas, contribuindo para várias doenças, de que são exemplos:
- demência incluindo a doença de Alzheimer;
- diabetes tipo 2;
- elevação dos níveis de colesterol;
- arteriosclerose;
- doença cardíaca e hipertensão.
- cancros da mama e colorretal.
- Como se pode lidar com ela?
Não precisa de fazer uma dieta especial ou de fazer exercícios fantásticos para combater a “barriga”. O exercício físico é importante e pode ajudar a eliminar parte da gordura visceral e subcutânea. E, se perdeu peso por outro meio, seja a dieta, seja a cirurgia, o exercício ajuda a manter essa perda de peso. Deveríamos fazer pelo menos 30 minutos de exercício por dia, de acordo com as nossas capacidades.
É também importante fortalecer os músculos através de alguns exercícios específicos, como levantar pesos ou fazer flexões. A ajuda de profissionais competentes é, certamente, bem vinda.
A dieta é fundamental e, para esse fim, a melhor orientação poderá ser dada por um nutricionista. Alguns estudos sugerem que o Cálcio e a Vitamina D estão associados a uma redução da gordura visceral; assim, são importantes os vegetais, como espinafres e couves, o tofu, as sardinhas, o iogurte e o leite – por exemplo.
O tabagismo está associado a um aumento da gordura visceral. Por muitas e boas razões, parar de fumar é altamente benéfico; esta é mais uma das razões para o fazer.
Esqueça as soluções fáceis e rápidas: a lipoaspiração e a dermolipectomia apenas são opção para o tratamento da gordura subcutânea, pelo que não eliminam a gordura visceral.
No contexto de obesidade grave e/ou resistente a múltiplas tentativas de dieta, a cirurgia metabólica é a alternativa.
- Como se previne?
Alguns alimentos devem ser evitados por estarem associados a um aumento da gordura visceral, como as gorduras que se encontram em algumas carnes, laticínios, fritos ou nos alimentos processados, como as carnes frias. São também de evitar bebidas gasosas, doces, bolos industriais e alimentos com adoçantes, como a frutose.
Siga as regras de uma alimentação saudável, rica em vegetais, cereais como a aveia, proteínas magras, peixe, ovos, leguminosas e laticínios pobres em gordura.
Dormir é crucial; nem de menos, nem de mais! Dormir sistematicamente menos de 5 horas ou mais de 8 horas está associado a um aumento da gordura visceral.
Evite o stress e a depressão; também estão associados a aumento da gordura visceral.
- Quando devo procurar conselho médico?
Deve procurar manter a sua saúde vigiada regularmente junto do seu médico assistente e, desta forma, perante sinais de alerta, o seu médico pode aconselhar sobre qual o melhor caminho. Este pode passar pela necessidade de tratamento endocrinológico, nutricional, ou cirúrgico – por exemplo nos casos de obesidade grave ou doença metabólica; a Fisiatria pode ser útil no acompanhamento no exercício físico e na recuperação das doenças articulares que acompanham a obesidade. Não podemos esquecer que o seguimento em Psicologia pode ser determinante para mudanças persistentes no comportamento alimentar.
Pode ser também importante o despiste ou tratamento da diabetes, da hipertensão ou da elevação do colesterol e/ou triglicéridos. É possível tratar as doenças associadas à gordura visceral, mas o melhor é prevenir a sua acumulação.