Se, em setembro, especialistas e políticos abandonaram a última reunião no Infarmed otimistas, esta sexta-feira, regressaram à mesma sala da Autoridade do Medicamento, em Lisboa, visivelmente mais tensos. Logo na apresentação de abertura – a cargo de Pedro Pinto Leite, responsável pelo tratamento de dados da pandemia na Direção-Geral da Saúde (DGS) – ficou claro que a pandemia se prepara para acelerar em todos os parâmetros: número de infetados, internados e mortos. Embora, seja previsível, graças à vacinação, que a situação não seja tão crítica como no ano anterior, os especialistas esperam que os números piorem à medida que o inverno se aproxima.
Países com risco mais elevado na Europa: Croácia; Eslovénia, Grécia,Hungria, Polónia e República Checa
A “incidência de casos aumentou e encontra-se com uma tendência crescente; os internamentos aumentaram e também se encontram com uma tendência crescente; a mortalidade também aumentou e também tem uma tendência crescente. Comparando com o período homólogo, estes dados são inferiores aos que tivemos noutras fases, porque a vacinação reduziu o risco de internamento e de mortes”, mas Portugal “acompanha o risco do resto da Europa, com uma magnitude inferior”, sintetizou Pedro Pinto Leite, que, na sua intervenção, deu como certo que “Portugal encontra-se, neste momento, na quinta fase pandémica”.
Concretizando: o País apresenta agora 203 casos por cem mil habitantes a 14 dias. Sendo que as maiores taxas de incidência encontram-se, respetivamente, nas regiões do Algarve, Centro e na Madeira (onde houve mais de 240 casos por cem mil habitantes nas últimas duas semanas).
Segundo o médico de saúde pública, não há grandes conclusões passiveis de tirar quanto ao sexo dos infetados; já em relação às idades é notório que a transmissão está a acontecer maioritariamente nas faixas etárias mais jovens. É nas crianças até aos nove anos que a incidência é mais elevada (ou seja, entre quem não tem cobertura vacinal), seguindo-se as faixas dos 20 aos 29 anos e a dos 30 aos 39. Todavia, quase todas as faixas etárias “mantém uma tendência crescente” de infeções, com exceção feita para as pessoas com mais de 80 anos, o que pode estar relacionado com a dose de reforço da vacina contra a Covid-19, antecipou Pedro Pinto Leite.
O aumento do número de infetados poderia dever-se ao crescente número de testes de rastreio – na semana que passou foram realizados 267 mil -, no entanto, a taxa de positividade deste testes apresenta-se também a subir. Neste momento, 4% das análises de diagnostico à Covid-19 feitas dão positivo. E as principais cadeias de transmissão estão associadas ao ambiente escolar e laboral.
“Letalidade foi até quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa”, Pedro Pinto Leite, DGS
Embora estejamos – como já referido – longe dos dados relativos aos picos anteriores da doença, este aumento de casos também se tem traduzido em mais camas ocupadas nos hospitais, em enfermarias e nos cuidados intensivos. A ocupação desta última unidade está em 28% da linha vermelha estabelecida pelas autoridades de saúde.
Já a mortalidade está avaliada em 11,1 óbitos por milhão de habitantes, abaixo dos 20 – valor estabelecido com CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) como preocupante. A média de idades das vítimas de Covid em Portugal é agora de 83 anos e a maior concentração de óbitos (38%) é no Norte. Segue-se, nesta lista, o Centro (27%) e Lisboa e Vale do Tejo (25%).