A variante Delta, detetada pela primeira vez na Índia em dezembro do ano passado, continua a ser a versão mais preocupante do coronavírus, representando quase o total das infeções registadas a nível global. Mas os cientistas querem estar um passo à frente e estão atentos às mutações desta variante, cujo super-poder, nas palavras de um virologista do Instituto de Virologia La Jolla, em San Diego, EUA, é a sua transmissibilidade. A Delta é duas vezes mais contagiosa que as versões anteriores do SARS-CoV-2, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e, a juntar a esta característica, ainda pode provocar sintomas dois ou três dias antes do que fazia o coronavírus orginal, o que dá menos tempo ao sistema imunitário para preparar a sua defesa. Estudos mostraram também que os infetados com a Delta têm cerca de 1200 vezes mais vírus no nariz e que essa carga viral é semelhante à encontrada nos não vacinados, embora, no caso dos vacinados, caia mais rapidamente.
Atualmente, esta variante representa 95% de todos os casos sequenciados a nível mundial, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A exceção é a África do Sul, onde o alastrar da Delta têm sido mais gradual, com as outras variantes, como a Gamma, a Lambda e a Mu.
Com este domínio global da Delta, os especialistas acreditam que o próximo desafio que vamos ter de enfrentar será o surgimento das sublinhagens desta variante.
A AY.4.2 é uma das que já estão em circulação. No Reino Unido já representa cerca de 10% das amostras de vírus sequenciadas e apresenta duas mutações na proteína spike. Comparada com a Delta original, esta sublinhagem não parece afetar a eficácia das vacinas, segundo uma análise preliminar da Agência de Segurança para a Saúde do Reino Unido. Parece, isso sim, ser ligeiramente mais transmissível.
E este “superpoder” da Delta e da sua “descendência” é que faz os virologistas vigiar de perto a sua evolução, uma vez que as vacinas atuais, já se sabe, são altamente eficazes a evitar doença grave e morte, mas não têm semelhante eficácia a impedir a infeção.
Enquanto não estiverem disponíveis vacinas de uma nova geração capaz de bloquear também a transmissão, o mundo continua vulnerável. Em entrevista ao Diário de Notícias (DN), o imunologista e professor catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra Manuel Santos Rosa adiantou que este novo tipo de vacinas poderá estar disponível já no próximo ano.
Segundo a OMS, a AY.4.2 já está a circular em 42 países, incluindo Portugal, onde já foram encontrados 38 casos, conforme divulgou terça-feira o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
As 11.442 sequências Delta analisadas em Portugal até à data dividem-se em quase 100 sublinhagens, em resultado da recente atualização da nomenclatura, que permitiu “uma maior discriminação das sequências analisadas”, refere o relatório do INSA.