O nevoeiro cerebral, cientificamente conhecido por défice cognitivo ligeiro, pode durar meses depois da infeção por Covid-19. Esta é a conclusão de um novo estudo, realizado por investigadores do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, que refere ainda que esta situação pode acontecer em doentes que não necessitaram de hospitalização, apesar de haver maior probabilidade de que o mesmo aconteça em doentes que foram internados.
Os investigadores tiveram em conta registos de dados de mais de 700 doentes desse hospital entre abril de 2020 e maio deste ano, com uma média de 49 anos e sem qualquer registo de demência, e, a partir da análise dessas informações, assim como da avaliação do funcionamento cognitivo de cada doente, chegaram à conclusão de que um quarto das pessoas curadas da Covid-19 teve problemas de memória, que permaneceram meses depois da infeção.
De acordo com os investigadores, entre os doentes internados, foram encontrados, predominantemente, problemas no funcionamento executivo, que é a forma como manipulamos as ações, pensamentos e emoções do dia-a-dia e envolve o autocontrolo, memória e flexibilidade mental. Além disso, a equipa detetou outros comprometimentos na área da velocidade e fluência de processamento cognitivo e na codificação de memória.
Relativamente a percentagens, a equipa deu conta de que 15% do total dos doentes apresentaram problemas na fluência da fala; 16% no funcionamento executivo, 18% na velocidade do processamento cognitivo, 20% na capacidade de processar categorias ou listas, 23%, na recuperação da memória e 24% na codificação da memória.
Diferenças entre doentes hospitalizados e não
Comparando os doentes com Covid-19 que foram hospitalizados com os que não foram, os pesquisadores descobriram que havia diferenças: em relação à recuperação de memória, 39% dos doentes hospitalizados desenvolveram problemas nessa área, relativamente aos 12% encontrados no outro grupo de doentes. Já relativamente à codificação de memória, os dados revelaram que 37% dos doentes que tinham sido internados reveleram problemas, em comparação com 16% dos doentes do outro grupo.
Os resultados deste estudo, publicado na última sexta-feira na revista JAMA Network Open, são consistentes, explicam os investigadores, com os primeiros relatórios que descrevem uma síndrome disexecutiva, em que são desenvolvidos problemas relativos a tarefas complexas de pensamento e raciocínio, após a infeção pelo novo coronavírus.
Apesar dos resultados, os pesquisadores ressalvam o facto de os doentes analisados terem contactado o Mount Sinai por terem sintomas e referem que são necessários mais estudos relativos a este tema.