Esta quarta-feira, as autoridades dos Serviços Preventivos dos EUA anunciaram que deixariam de recomendar a toma diária de aspirina para pessoas com 60 ou mais anos com risco de doenças cardíacas, com o objetivo de prevenção de um primeiro evento cardíaco. Desde 2016 que especialistas daquele serviço aconselhavam este medicamento a pessoas de cerca de 50 anos com 10% de risco de sofrerem ataque cardíaco ou AVC nos 10 anos seguintes. Agora, vão deixar de o fazer.
“Usar aspirina diariamente pode ajudar a prevenir ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais em alguns [casos], mas também pode causar efeitos adversos graves, como hemorragia interna”, referiu num comunicado John Wong, membro da task force dos Serviços Preventivos. Relativamente às pessoas com idades entre os 40 e os 49 anos, sem histórico de doenças cardiovasculares, devem tomar a decisão de começar o tratamento de forma individual, junto dos médicos, acrescentaram os especialistas.
As novas recomendações ainda não são definitivas, mas os especialistas salientam a importância de passar a mensagem de que estas novas diretrizes não se se aplicam a pessoas que tomam aspirina depois de já terem sofrido um AVC ou um ataque cardíaco.
Portugal segue as diretrizes europeias, que estão em linha com as americanas
Em Portugal, são seguidas as recomendações europeias, que estão em linha com as americanas, e os médicos já atuam desta forma, garante à VISÃO Rui Guerreiro, cardiologista e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. “Nós utilizamos e vamos continuar a utilizar a aspirina em pessoas que já tiveram um primeiro evento cardiovascular, ou seja, que já sofreram algum enfarte ou acidente vascular cerebral (AVC). Essas pessoas têm indicação para continuar a tomar aspirina”, explica.
Mais recentemente, mas com uma tendência de declínio nos últimos tempos, utilizava-se a aspirina para prevenir um primeiro evento cardiovascular numa pessoa que nunca tinha sofrido um enfarte ou AVC mas que tinha vários fatores de risco, como ser fumador, ter diabetes ou colesterol alto, por exemplo.
As últimas evidências têm mostrado, no entanto, que não há benefício em fazer essa terapêutica para prevenir primeiros eventos. “Os estudos que têm saído nos últimos anos e que levaram a que nos EUA alterassem agora as recomendações é que o benefício nessas pessoas é quase equiparável ao risco que está inerente à toma da aspirina, ou seja, de essas pessoas poderem ter alguma hemorragia, principalmente no estômago ou intestino”, acrescenta o médico.
As recomendações seguidas no País dizem, ainda assim, que pode ser considerada a utilização da aspirina para prevenir um primeiro evento cardiovascular, “mas apenas em doentes de muito alto risco cardiovascular, sendo que o que deverá ser feito cá é muito semelhante a esta recomendação americana”, esclarece Rui Guerreiro.
“Essa medicação deve ser restrita a pessoas com um risco muito grande, mas deve ser discutido caso a caso com o médico”, refere o cardiologista, que ressalva ainda: “A ideia que existe já há vários anos de que, a partir de uma certa idade, quase toda a gente tem benefício em fazer uma dose baixa de aspirina não é, claramente, verdadeira.”