Neste momento, nem todos os infetados com Covid-19 transmitem a doença a outra pessoa. O índice de transmissibilidade está avaliado em 0,84 – o valor mais baixo deste indicador, numa situação que não seja de confinamento. São as vacinas a fazer efeito, analisa Baltazar Nunes, o matemático e epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, numa sessão do Infarmed, com base em estudos nacionais e internacionais, que têm monitorizado a evolução dos anticorpos. No entanto, adverte: é natural que, ao longo do tempo, se verifique uma redução da efetividade da vacina e o inverno será um período decisivo para conhecer o alcance da imunidade.
Se no espaço de duas a três semanas depois da toma da vacina, esta se tem mostrado muito eficaz, à medida que o tempo passa a tendência é para surgirem infetados com pelo menos um sintoma (eficácia passa a estar avaliada entre 70 a 80 por cento). Apesar disto, no caso dos doentes graves, que precisam de hospitalização, a eficácia tem-se revelado mais duradoura e a rondar os 95 por cento. E uma coisa é certa: “maior cobertura vacinal significa menor transmissibilidade”.
É isso que espelham os dados epidemiológicos nacionais, numa “trajetória descrescente” e a apontar para “o fim de uma fase pandémica”. Baltazar Nunes prevê que, nos próximos 14 a 30 dias, Portugal passe a ter uma incidência de 60 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, em quase todas as regiões do País. A exceção deverá ser o Algarve, que “atingiu níveis de incidência mais elevados e vai demorra um pouco mais de tempo a atingir os níveis de incidência” das outras regiões.
Se este cenário se mantiver e o esquema vacinal continuar a apresentar resultados semelhantes aos de agora, a situação é animadora. Mas, pelo meio, ainda haverá desafios. O especialista refere-se com reticências ao período imediato de regresso às aulas e ao trabalho presencial e à altura do natal e do ano novo – períodos que fizeram disparar os casos, no ano passado. Acresce que estas festas acontecem em pleno inverno, altura propícia à circulação de vírus.
Baltazar Nunes chama a atenção: se a situação epidemiológica se mantiver como está não deverá haver perturbação maior nos serviços de saúde. Caso contrário, se o inverno coincidir com uma fase de redução da imunidade, poderemos voltar a assistir a um crescimento dos casos de Covid-19.