“Os estudos atualmente disponíveis não fornecem provas credíveis de uma diminuição substancial da proteção contra doença grave, que é o principal objetivo da vacinação”, lê-se num artigo publicado esta semana na revista científica The Lancet, que reviu a evidência científica disponível sobre a eficácia das vacinas contra a Covid-19.
Os autores da investigação, entre os quais se incluem cientistas ao serviço da Organização Mundial de Saúde (OMS) ou da agência reguladora dos medicamentos norte-americana (FDA), defendem que “as doses de reforço para a população em geral não são apropriadas nesta fase da pandemia”, apesar de alguns países já terem começado a administrar doses adicionais a toda a população, como é o caso de Israel.
O estudo sublinha que, no geral, a eficácia das vacinas contra a doença grave ronda os 95%, mesmo perante a variante Delta, que continua a ser dominante também em Portugal. Também a proteção contra a infeção com sintomas ligeiros ou moderados se mantém à volta de 80%.
A eficácia das vacinas contra a doença grave ronda os 95%, mesmo perante a variante Delta
Apesar de a defesa contra a transmissão do vírus ser menor, os investigadores destacam que os principais responsáveis pelos contágios na comunidade são as pessoas não vacinadas, que têm um risco de morte onze vezes superior ao dos vacinados, revelou um estudo do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano.
Assim, a especialista da OMS, Ana Maria Henao Restrepo, foi perentória ao afirmar que as vacinas salvam mais vidas “se forem disponibilizadas a pessoas em risco apreciável de doença grave e que ainda não tenham recebido qualquer vacina”.
A OMS tem vindo a apelar aos países mais ricos para adiarem a administração de doses de reforço pelo menos até ao final do ano, numa tentativa de acelerar o acesso às vacinas nas regiões mais pobres.
Até agora, das 5,5 milhões de doses produzidas no mundo, 80% foram inoculadas nos países mais desenvolvidos e as restantes 20% nos países com maiores dificuldades de acesso a cuidados de saúde.
Portugal já está a administrar terceiras doses
Os investigadores admitem que “o reforço pode ser apropriado para alguns indivíduos em que a vacinação primária, aqui definida como a série original de uma ou duas doses de cada vacina, possa não ter induzido uma proteção adequada”.
Aliás, foi essa a opção das autoridades de saúde portuguesas. No início deste mês, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou a norma relativa à campanha de vacinação e passou a recomendar uma dose adicional da vacina para todas as pessoas com 16 ou mais anos com quadros de imunossupressão.
A DGS recomenda uma dose adicional da vacina para todas as pessoas com 16 ou mais anos com quadros de imunossupressão
Independentemente da marca do fármaco com o qual foram inicialmente imunizados, aqueles que são elegíveis para uma dose extra devem receber uma vacina de mRNA (a da Pfizer/BioNTech ou a da Moderna) com um intervalo mínimo de três meses após a última inoculação.
A administração da injeção adicional deve ser realizada nos centros de saúde e exige a apresentação de prescrição médica.
Os autores do artigo publicado na The Lancet sugerem que seria mais eficaz administrar doses de reforço já adaptadas às novas variantes em circulação, tal como acontece anualmente com a vacina contra a gripe.
E aproveitam para recordar que uma simples descida da quantidade de anticorpos presentes no organismo não é necessariamente sinónimo de menos proteção, já que a imunidade também é mediada por linfócitos T. Por isso, Ana Maria Henao Restrepo afirmou que “se as vacinas forem implantadas onde elas serão mais benéficas, poderão acelerar o fim da pandemia, inibindo uma maior evolução das variantes.”
Afinal, ainda são mais aqueles que desesperam por uma primeira dose do que aqueles que precisam de uma terceira.