A luz parece brilhar, finalmente, ao fundo do túnel. Na reunião que juntou hoje políticos, especialistas e autoridades de saúde no Infarmed, Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, “atreveu-se” a dizer que “o próximo inverno não será de descontentamento, mas um inverno feliz”.
“Apesar de pouco mais de 50% das pessoas estarem verdadeiramente defendidas na sua imunidade, podemos imaginar um inverno em que a vida se pode aproximar muito daquilo que era antes”, afirmou, esta manhã, o especialista.
Para tal, Henrique Barros considera fundamental a vacinação das crianças, sob pena de termos “um pico inequívoco de casos”, manter as medidas de proteção individual, reforçar a vigilância epidemiológica e seguir atentamente a evolução das variantes e de infeções sazonais, como a gripe, bem como os doentes com sintomas prolongados de Covid-19.
Seis meses após ter sido apresentado um cenário possível do que aconteceria ao longo do ano, “caso a vacinação decorresse a um ritmo que estava previsto e com uma eficácia vacinal prática de 70%”, os especialista refizeram as contas e incluiram as novas variantes e o desconfinamento na equação.
“A partir de maio, a realidade fugiu àquilo que tínhamos imaginado, quer a nível do número de casos quer a nível do número de pessoas internadas”, afirmou Henrique Barros.
O modelo de previsão refeito, “aceitando que o que aconteceu em maio foi, simultaneamente, o aparecimento da variante Delta, mas também uma clara modificação dos nossos comportamentos e da forma de nos relacionarmos”, permite vislumbrar alguma tranquilidade nos próximos tempos, ainda que com a permanência de “casos residuais”.
Ainda assim, Henrique Barros avisou que, no período do outono, haverá “o impacto eventual da mobilidade e da abertura das escolas”. No entanto, o impacto maior, segundo o especialista, será o da diminuição das temperaturas, característica dos meses mais frios do ano. “Por cada diminuição de cinco graus nas temperaturas mínimas médias haverá um aumento de cerca de 30% no número de casos”.
Precisamente por causa do efeito do frio, dos casos que permanecem na população e do aumento de casos que possam surgir por introduções de infeção, apesar de 70% da população adulta estar vacinada com o esquema vacinal completo, o especialista afirma que podemos esperar, ainda que pequena e com pouco relevo nos internamentos e mortes, “uma nova onda para o período do inverno”.
Henrique Barros afirmou ainda que há um aumento da transmissibilidade do vírus, mas “que está a dirigir-se para valores mais baixos e se encontra em níveis muito aceitáveis, abaixo dos 120, para as idades mais avançadas”.
Esta tendência, segundo o especialista, começa a sentir-se também nas faixas etárias mais jovens, nas quais, “do ponto de vista de internamento, não há uma preocupação relevante, como não há a nível de letalidade”. O problema dos internamentos, quer seja em enfermaria ou cuidados intensivos, surge, segundo Henrique Barros, a partir dos 40 anos de idade.