A guerra na Ucrânia faz cada vez menos manchetes, face ao cansaço da opinião pública, ao fim de mais de dois anos de conflito, mas encontra-se numa das suas fases mais decisivas. A Rússia tem intensificado os seus ataques (ontem ao final da tarde e esta madrugada, atacou várias localidades na região de Sumy e a cidade de Odesa, onde matou quatro civis), tentando tirar partido da sua superioridade em poder de fogo antes que o pacote militar americano de €61 mil milhões comece a chegar à linha da frente. E, a julgar por boa parte da opinião no espaço público, a Rússia está a entrar pela Ucrânia como faca quente em manteiga.
Temos visto, nos últimos meses, uma atitude triunfante, se não ufana, do lado pró-russo. É uma postura que esteve sempre presente, alimentada em grande parte pelas “fábricas” de bots que integram a máquina de desinformação do Kremlin. Já lá estava antes de 24 de fevereiro de 2022 e durante os primeiros dias da invasão, a tentar convencer-nos de que o exército russo ia ter um passeio até Kyiv. A capitulação da Ucrânia era inevitável, continuaram a garantir-nos nos meses seguintes, apresentando conquistas territoriais de pequenas aldeias desabitadas como grandes vitórias e desvalorizando as “retiradas estratégicas” e “gestos de boa vontade”, que se traduziram na recuperação pela Ucrânia de áreas imensas (como a contraofensiva de Kharkiv, que resultou na libertação de 12 mil quilómetros quadrados – dois Algarves e meio).