Resultados preliminares de um estudo pré-publicado na revista científica The Lancet indicam que a mistura de diferentes tipos de vacina contra a Covid-19 (mRNA e vetores virais) é capaz de produzir uma resposta imunológica protetora forte contra o novo coronavírus.
Determinadas combinações mostraram mesmo uma maior concentração de anticorpos relativamente a quando é aplicado o esquema vacinal clássico de duas doses de vacina da AstraZeneca, por exemplo.
Os investigadores responsáveis pelos estudo, liderados por uma equipa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, avaliaram 830 participantes com 50 ou mais anos e chegaram à conclusão que os voluntários produziram altos níveis de anticorpos e células do sistema imunológico após receberem uma dose de vacina da Pfizer e uma dose de vacina da AstraZeneca.
Metade dos participantes recebeu o esquema vacinal clássico (duas doses de vacina da Pfizer ou da AstraZeneca, administradas com 28 ou 84 dias de intervalo). A outra metade recebeu uma dose de cada vacina e dividiu-se em dois grupos: um que recebeu primeiro a vacina da Pfizer e depois a da Astrazeneca e outro que recebeu primeiro a vacina da AstraZeneca e depois a da Pfizer (também administradas com 28 ou 84 dias de intervalo).
Pfizer/Pfizer vs AstraZeneca/AstraZeneca
Em primeiro lugar, o estudo revelou que aqueles que receberam duas doses da vacina da Pfizer produziram níveis de anticorpos cerca de 10 vezes superiores aos que receberam duas doses de vacina da AstraZeneca.
Pfizer/AstraZeneca e AstraZeneca/Pfizer vs esquema clássico
Os voluntários que receberam primeiro a vacina da Pfizer e depois a da AstraZeneca mostraram níveis de anticorpos cerca de cinco vezes mais altos do que aqueles com duas doses de AstraZeneca. Já os voluntários que receberam primeiro a vacina da AstraZeneca seguida da da Pfizer atingiram níveis de anticorpos quase tão altos quanto os que haviam recebido duas doses de vacina da Pfizer.
Quando comparados entre si, o esquema AstraZeneca/Pfizer apresenta uma concentração de anticorpos que chega a ser quase o dobro daquela atingida no esquema Pfizer/AstraZeneca. No entanto, os resultados apresentados referem-se, neste momento, apenas aos participantes que receberam as doses com 28 dias de intervalo e sabe-se que a vacina da AstraZeneca demonstrou gerar uma resposta imunológica aumentada com a dose de reforço posterior (84 dias ou 12 semanas).
Precisamente por esta razão, os autores do estudo também já anteciparam que, quando tiverem os dados relativos a quem recebeu as doses com 12 semanas de intervalo, a vantagem observada agora entre as pessoas que receberam vacinas da Pfizer primeiro (níveis de anticorpos cerca de cinco vezes mais altos do que aqueles com duas doses de AstraZeneca tomadas a 28 dias de distância) diminuirá nos grupos que receberam a dose de reforço às 12 semanas.
Imunidade celular mais alta com duas vacinas diferentes
O estudo descobriu ainda que o uso de vacinas diferentes produziu um nível mais alto de células de memória T do que a administração de duas doses da mesma vacina. Citado pelo The New York Times, Mathew Snape, especialista em vacinas e um dos autores do estudo, disse que ainda não era claro por que razão a mistura tinha essa vantagem. “É muito intrigante, digamos assim”, comentou
Johnson&Johnson pode precisar de um reforço mRNA
No que respeita a vacina da Johnson&Johnson, já se equaciona reforçar a dose única desta vacina com uma segunda dose de vacina de mRNA, a fim de produzir uma resposta imunológica mais robusta e duradoura, sobretudo contra a variante Delta.
Ainda não existem dados concretos, mas o Instituto Nacional de Alergologia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos da América já está a realizar um ensaio clínico com americanos totalmente vacinados (com vacinas da Pfizer, Moderna ou Johnson&Johnson) aos quais dará uma dose de reforço da vacina Moderna para ver se a estratégia funciona e é segura.
Terceira dose de AstraZeneca à vista?
Ainda é cedo para perceber se será realmente necessária uma terceira dose da vacina da AstraZeneca. No entanto, e seguindo a máxima “é melhor prevenir que remediar”, investigadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, já pre-publicaram um estudo na revista científica The Lancet, relativamente à questão.
Foram observados 90 voluntários, vacinados com a terceira dose de vacina cerca de 30 semanas após a segunda.
As análises laboratoriais mostraram que a terceira dose, além de ter reforçado a resposta das células T, aumentou os níveis de anticorpos contra o vírus nos voluntários até um valor superior ao que havia sido observado um mês após a segunda dose de vacina.