A bradicardia pode ser uma resposta normal do coração em pessoas que fazem exercício físico regular e intenso, começa por esclarecer à VISÃO Mário Martins Oliveira, cardiologista no Hospital CUF Tejo e no Hospital CUF Porto. Isto acontece quando a frequência cardíaca fica abaixo de 60 batimentos por minuto. “Mas quando é acentuada, isto é, com batimentos abaixo de 50 por minuto, pode causar tonturas, cansaço fácil, falta de ar, perturbações da memória e atenção, e até perda de conhecimento, com possibilidade de desmaios”, explica o médico. Estes sinais de alerta são importantes para se conseguir fazer um diagnóstico precoce da condição e tratá-la com eficácia.
Portugal está, agora, na linha da frente dos países com maior taxa anual de implantações de pacemakers, usados para tratar a bradicardia sintomática, com um valor que ronda as 1000 unidades por milhão de habitantes. “Apesar disso, não há dados sobre a percentagem da população que apresenta bradicardia”, afirma Martins Oliveira.
Os pacemakers devem ser implantados em doentes sintomáticos que tenham alterações dos níveis de iões no sangue -potássio, magnésio e cálcio, por exemplo – ou do equilíbrio ácido-base, ou seja, dos valores de pH sanguíneo. “São dispositivos altamente seguros e eficazes, de pequena dimensão – passam despercebidos porque são implantados debaixo da gordura subcutânea -, colocados sob anestesia local e com bateria de longa duração, superior a 10 anos”, explica o especialista, que garante ainda que estes aparelhos permitem uma vida completamente normal, sem quaisquer limitações.
Agora, já existem pacemakers sem fios elétricos, cápsulas pequeníssimas com baterias de grande longevidade, colocadas dentro do coração, e que usam um sistema de entrega como se fosse um cateterismo, esclarece Martins Oliviera. “Há vários hospitais em Portugal já com vasta experiência nesta nova tecnologia inovadora”.
O pacemaker mais pequeno do mundo, com 2,5 centímetros, sem fios e sem necessidade de uma incisão no peito, chegou ao País em 2015 e foi implantado, pela primeira vez, em junho desse ano, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, Oeiras. Este dispositivo tem um décimo do tamanho do pacemaker convencional e pode ser introduzido através de um catéter na veia femoral, para depois ser colocado no coração.
“Com pacemakers cada vez mais pequenos, com mais funções e maior longevidade, a evolução no tratamento da população afetada será cada vez mais interessante”, diz Martins Oliveira. “Além disso, em determinadas situações especificas é mesmo possível proceder a um tipo de ablação por cateter, designada cardioneuromodulação, capaz de aumentar a frequência cardíaca em indivíduos sintomáticos, sobretudo quando jovens”, acrescenta.
E se a bradicardia não for tratada?
O não tratamento de situações de bradicardia sintomática, principalmente se for considerada extrema, ou seja, inferior a 40 batimentos por minuto ou com pausas cardíacas maiores que 2 segundos, pode provocar desmaios, quedas com traumatismo, alterações cognitivas da atenção e raciocínio ou até queixas que sugiram insuficiência cardíaca, como cansaço, falta de ar e inchaço das pernas, com marcada limitação funcional, assim esclarece o especialista.
“Com o envelhecimento da população estima-se um aumento da incidência de bradicardia devido à degenerescência do sistema elétrico cardíaco”, alerta o cardiologista. Contudo, hoje em dia, existem muitas formas de se conseguir estar atento ao coração e ir dando conta dos sinais que ele dá. “É importante estarmos atentos à frequência cardíaca. Os relógios e telefones de nova geração têm aplicações com capacidade para este tipo de avaliação. Na dúvida, ou se houver suspeita por sintomas ou deteção de frequência cardíaca baixa, deve consultar-se o médico, que irá requisitar os exames complementares necessários para o diagnóstico”, acrescenta.