Cientistas identificaram um novo coronavírus numa criança hospitalizada com pneumonia num hospital da Malásia. Apesar de o caso ter acontecido em 2018, só foi revelado esta semana num artigo publicado na revista científica Clinical Infectious Diseases.
O estudo sublinha que não está provado que este coronavírus tenha causado a pneumonia, mas alerta para a importância de monitorizar o aparecimento de novos vírus que possam representar uma ameaça para os seres humanos.
“Se conseguirmos identificá-los precocemente e descobrir se são bem-sucedidos em hospedeiros humanos, será possível mitigá-los antes de se tornarem vírus pandémicos”, afirmou o epidemiologista Gregory Gray, um dos autores da investigação, ao jornal The New York Times.
Também a gripe H5N8 exige vigilância, já que infetou sete trabalhadores de um aviário na Rússia, em dezembro do ano passado, e está a obrigar ao abate de milhões de aves.
É comum os vírus que afetam as pessoas terem origem em animais. No caso deste novo coronavírus, ele terá surgido inicialmente num cão. Há décadas que os cientistas sabem que os coronavírus infetam aos cães, mas nunca um coronavírus canino teve impacto nos seres humanos.
Os investigadores admitem que possa ter havido um intermediário entre o cão e a criança, por exemplo, um gato. Caso se venha a confirmar o seu potencial patogénico, este será o oitavo coronavírus capaz de causar doença aos seres humanos, outro deles é o responsável pela pandemia de Covid-19 (apesar de cães e gatos serem suscetíveis de apanhar o SARS-CoV-2, não existe evidência de que o transmitam aos humanos.)
A pesquisa que conduziu à descoberta deste novo coronavírus canino surgiu na primavera do ano passado, quando os autores do estudo decidiram criar um instrumento de diagnóstico capaz de identificar todos os coronavírus, mesmo aqueles que ainda não foram descobertos. Analisaram amostras nasofaríngeas de 301 doentes hospitalizados com pneumonia, entre 2017 e 2018, em Sarawak, na Malásia. E detetaram um coronavírus semelhante àqueles que habitualmente infetam os cães em oito casos, essencialmente de crianças. Mesmo quando tornaram o teste de diagnóstico PCR menos sensível, continuaram a confirmar-se dois casos.
Este vírus tem uma mutação pouco comum, a eliminação do gene N, que nunca tinha sido detetada nos coronavírus caninos, mas existem mutações semelhantes no SARS e no SARS-CoV-2.
A investigação ainda está numa fase inicial, mas existe a possibilidade de esta mutação contribuir para a adaptação destes vírus aos seres humanos.
Por enquanto, ainda é demasiado cedo para dizer se este vírus representa um risco para o planeta.
Foram infetados sete trabalhadores de um aviário com o H5N8 na Rússia, no final do ano passado, mas o surto acabou por só ser revelado em fevereiro, quando o caso foi reportado à Organização Mundial da Saúde
Outra vez a gripe das aves
Também o vírus H5N8 tem causado preocupações. Um artigo publicado na revista científica Science (que, agora, conta com dois portugueses no conselho editorial), alerta para “a rápida propagação global deste vírus da gripe aviária altamente patogénico e a sua capacidade demonstrada de atravessar a barreira das espécies, transmitindo-se para os seres humanos, torna-o uma grande preocupação não só para a agricultura e segurança da vida selvagem, mas também para a saúde pública global”.
De acordo com os autores da investigação, o H5N8 já está presente em 46 países. Os cientistas alertam para a possibilidade de este influenza ter uma proteína que poderá aumentar a capacidade de se ligar aos recetores habitualmente usados pelos vírus da gripe humana. E, por isso, chegar, eventualmente, mais facilmente às pessoas.
Foram infetados sete trabalhadores de um aviário na Rússia no final do ano passado, mas o surto acabou por só ser revelado em fevereiro, quando o caso foi reportado à Organização Mundial da Saúde (OMS) por Moscovo. No final desse mesmo mês, a OMS apresentou um relatório em que classificava “o risco de transmissão de humano para humano como baixo”.
Esta semana, este organismo das Nações Unidas anunciou a criação de “Painel de Peritos de Alto Nível em Saúde para melhorar a compreensão de como as doenças com potencial para desencadear pandemias emergem e se propagam”. O principal objetivo é evitar uma nova pandemia como aquela provocada pelo SARS-CoV-2.