Depois de analisarem a produção de anticorpos nos profissionais de saúde inoculados com a vacina da Pfizer/BioNtech, os dados não deixaram margem para dúvidas: quem tinha obesidade produziu cerca de metade da quantidade de anticorpos, em comparação com aqueles de peso considerado saudável.
Estudos anteriores já sugeriam que a obesidade – definida por um índice de massa corporal (IMC) superior a 30 – aumentava em quase 50% o risco de morrer de Covid-19, tal como a possibilidade de internamento hospitalar.
Parte disto, reconhecem os médicos, pode dever-se ao facto de as pessoas com obesidade terem frequentemente outras patologias associadas, tais como doenças cardíacas e diabetes, associadas igualmente a um maior risco se infetados com o coronavírus. O excesso de gordura corporal pode ainda causar alterações metabólicas, tais como resistência à insulina e inflamação, o que torna mais difícil para o corpo combater infeções.
Este estado constante de inflamação de baixo grau pode ainda, suspeita-se, enfraquecer determinadas respostas imunitárias, como as produzidas pelas células B e T, que desencadeiam a esperada resposta protetora após a vacinação. Foi depois de avaliar a quantidade destes anticorpos que se verificou uma produção muito menor nos casos em que se verificavam situações de obesidade.
Reforço na vacinação?
Segundo explicou Aldo Venuti, do Instituti Fisioterapici Ospitalieri de Roma, citado pelo The Guardian, o que fizeram foi avaliar a resposta dos anticorpos após duas doses da vacina em 248 profissionais de saúde. Uma semana depois, 99,5% deles tinham desenvolvido anticorpos, uma resposta superior à registada em pessoas que tinham recuperado de Covid-19. No entanto, os valores das pessoas com excesso de peso caíram, literalmente, para metade. E isso, considera aquele grupo italiano, pode implicar um reforço na vacinação deste subgrupo.
“Embora sejam necessários mais estudos, estes dados podem ter implicações importantes no desenvolvimento de estratégias de vacinação para o Covid-19, particularmente em pessoas obesas. Se os nossos dados fossem confirmados em estudos maiores, dar a pessoas obesas uma dose extra da vacina ou uma dose superior poderia ser uma opção a ser avaliada nesta população”, frisou ainda Venuti, assumindo que se trata de um estudo ainda não revisto por pares. Mas já há algumas reações.
“Sempre soubemos que o IMC tinha um grande peso na resposta imunológica às vacinas, daí considerarmos que este trabalho é interessante, embora se baseie num conjunto de dados preliminares bastante pequeno”; considerou Danny Altmann, professor de imunologia no Imperial College London, citado por aquele diário britânico. “Mas confirma já que ter uma população vacinada não é sinónimo de ter uma população imunizada, especialmente em países onde se regista uma obesidade elevada, e sublinha a necessidade vital de programas de monitorização imunológica a longo prazo”.
Num outro estudo, Altmman e a sua equipa tinham já demonstrado que a reinfeção com SARS-CoV-2 era também mais comum entre pessoas com um IMC elevado – e que estes tinham tendência a produzir menos anticorpos depois de infetados.