Desde a última sexta-feira que se têm formado filas de ambulâncias à porta do Santa Maria, em Lisboa, provocadas pelo aumento de doentes de covid-19. Os doentes têm de esperar dentro das ambulâncias por causa da grande afluência nas urgências.
Contudo, o próprio hospital, que tinha nas últimas 24 horas 201 internados com covid-19, 44 dos quais em unidade de cuidados intensivos (UCI), considera que não está a viver “uma situação de caos”.
Numa resposta enviada à agência Lusa, quando questionado sobre a fila de ambulâncias que na noite de sexta-feira se acumularam à porta da urgência, o Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) reconheceu a existência de uma “grande pressão assistencial”, afastando porém ter havido “uma situação de caos”, e adiantou o reforço da capacidade de resposta à covid-19.
“Perante a grande pressão na urgência dedicada a doentes respiratórios e nos internamentos, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte alargou o plano de contingência covid, o que prova não só que não está em rotura”, como houve “capacidade de adaptação do seu plano às necessidades assistenciais”, informou fonte da administração, à agência Lusa.
“No âmbito da urgência covid, nas próximas horas, o hospital irá reforçar a capacidade de resposta desta urgência com uma segunda estrutura, junto à Urgência Central, com capacidade para cerca de 10 doentes, pelo que os atuais postos de atendimento/boxes/quartos da urgência autónoma passarão de 33 para 51 durante a próxima semana”, lê-se na mensagem do hospital.
No que respeita ao internamento, a capacidade covid em enfermaria passará das atuais 160 para 200 camas, “com a abertura, na sexta-feira última, de uma enfermaria com cerca de 20 camas e mais 20 camas noutra enfermaria, que começa a funcionar no início da semana”.
Ao nível dos cuidados intensivos, a capacidade atual de “internamento covid” contempla 48 camas, estando previstas, em caso de necessidade, mais 10 vagas em UCI num próximo passo, de acordo com a assessoria do conselho de administração deste centro hospitalar.
“Em pouco mais de uma semana, o CHLN somou um total de 90 camas ao seu plano de contingência covid — de um total de 160 para 250 camas, entre enfermarias e UCI -, aumento que é acompanhado também pela criação de vagas de internamento para doentes não covid”, sublinhou.
Quanto à situação do Hospital de Santa Maria, a assessoria não considera o acumular de ambulâncias uma “situação de caos”, mas antes resultado de uma “grande pressão assistencial”.
“A covid-19 é uma doença que implica tomadas de decisão que não são fáceis, (…) e processos morosos para determinar com clareza se existe de facto infeção pelo novo coronavírus”, o que conduz à “morosidade nos processos de tomada de decisões”, lê-se na mensagem do CHLN.
O CHLN envolve o Hospital de Santa Maria e o Hospital Pulido Valente, em Lisboa.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, no entanto, denunciou hoje que há doentes transportados para os hospitais a passar “horas nas macas das ambulâncias”, tendo sido já registada a morte de um paciente, antes de entrar na unidade hospitalar.
“Recebi uma informação de um doente que morreu dentro de uma ambulância. Isso é garantido”, avançou à agência Lusa o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, assumindo que estes estão a viver “momentos muito difíceis e muito complicados”, porque estão a ser eles a fazer “quase de hospitais”.
Segundo Marta Soares, as ambulâncias dos bombeiros estão a ficar retidas com doentes em muitos dos hospitais do país, durante horas.
“Chegamos lá [aos hospitais], não há macas, e muitas vezes eles estão horas nas nossas macas, alguns dentro das próprias ambulâncias, a ponto de já terem morrido cidadãos dentro das próprias ambulâncias, e muitas vezes as nossas macas ficam lá retidas, nos corredores, nas urgências, onde efetivamente esses hospitais se servem do nosso equipamento para garantir o resguardo dos doentes, já que não têm capacidade com camas, nem com macas”, para fazer a receção, descreveu.
Com Lusa