A estrutura genética da proteína spike, utilizada pelos coronavírus (como o SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19) para se fixar às paredes externas das células humanas e assim alcançar o primeiro passo da infeção, foi recriada na imagem mais detalhada de sempre. Com recurso a um método que combina a técnica de criomicroscopia eletrónica com computação, um grupo de cientistas do Departamento de Energia do Centro de Aceleração Linear de Stanford, EUA, conseguiu representar os espigões característicos no seu estado natural, ainda ligados ao vírus e sem recurso a fixadores químicos que podem distorcer a sua forma, o que nunca tinha sido conseguido antes.
Os investigadores recorreram a uma técnica que permite a congelação em tempo recorde de vírus intactos, deixando preservado o estado natural dos seus componentes. Depois, com recurso aos tais instrumentos de criomicroscopia eletrónica, fizeram milhares de imagens pormenorizados de vários ângulos e extraíram digitalmente as partes que continham as proteínas spike para as combinar nestas imagens inéditas de alta resolução.
A importância desta “fotografia”? A possibilidade de desenhar medicamentos e mesmo vacinas mais eficazes, esperam os investigadores.
“Quando se purifica uma proteína spike e se estuda isolada, perde-se o contexto biológico importante: qual o aspeto numa partícula de vírus intacta?”, explica Wah Chiu, que liderou o estudo, publicado no Quarterly Reviews Biophysics Discovery .
O SARS-CoV-2 é tão virulento que poucos laboratórios de criomicroscopia eletrónica no mundo têm condições para o estudar em segurança. Mesmo neste caso, foi analisada uma estirpe de outro coronavírus que causa sintomas mais leves, responsável por 10% das infeções respiratórias em humanos por ano. Mas os cientistas acreditam que se liga aos mesmos recetores na superfície das células usados pelo novo coronavírus.
Uma equipa de cientistas alemães já tinha usado um método semelhante para tentar obter imagens da proteína do SARS-CoC-2, mas usaram formaleído para garantir que o vírus não poderia infetar ninguém, um tratamento que pode provocar alterações químicas e impedir assim a visualização da sua verdadeira estrutura.