Muitas pessoas se referem a ela como um mau jeito, mas na realidade é uma lesão musculoesquelética que envolve estiramento ou rutura de um ligamento. “A grande maioria das pequenas lesões ortopédicas ocorre de duas maneiras: através de uma pancada direta (denominada contusão) ou através de um ‘mau jeito’ (vulgo entorse)”, explica o ortopedista Francisco Guerra Pinto, do Hospital Cruz Vermelha, garantindo que as entorses estão “entre as patologias traumáticas mais frequentes dos membros inferiores”. E podem, acrescenta, “ocorrer durante o andar, a corrida ou em qualquer atividade desportiva”. Veja a explicação do médico sobre o que se passa nos joelhos e nos tornozelos. E quais os cenários que podem estar em cima da mesa.
A explicação
Para compreender o que é uma entorse, é importante entender primeiro os três elementos principais de uma articulação, refere o médico, sublinhando: “Todas as articulações do corpo têm a mestra estrutura: ossos, ligamentos e tendões.” São exatamente estes três elementos que estão envolvidos nos “maus jeitos” que surgem no joelho e nos tornozelos.
Os ossos
Na articulação, existem dois ossos diferentes que se movimentam entre si, nota o especialista, contando que estes são revestidos por cartilagem. “E mantêm o seu perfeito encaixe (denominado congruência) através de ligamentos e componentes que aumentam a sua perfeita adaptação, como os meniscos.”
Ligamentos
Os ligamentos, por seu lado, são, “pequenas ‘fitas’ que estão lateralmente ao eixo de movimento e que garantem a ausência de movimentos anómalos”. Quando eles se rompem, há instabilidade.
Tendões
Os tendões, esclarece, são “outras ‘fitas’ que estão no prolongamento dos músculos e que provocam movimentos”. São, diz o médico, “visíveis no dorso da mão enquanto movimentamos os dedos”. Quando eles se rompem, há perda de função e não é possível movimentar voluntariamente essa articulação.
O GRANDE MITO
“Uma entorse é pior do que uma fratura.” É um dos grandes mitos, garante o ortopedista Francisco Guerra Pinto. A verdade, diz, “é que uma fratura é uma lesão com maior destruição tecidular do que uma entorse”. O único fator favorável numa fratura é o seu prognóstico: “A cicatrização do osso, designada ‘consolidação’, ocorre em 95% dos doentes; a cicatrização dos ligamentos do tornozelo ocorre apenas em 70 por cento.”
O que acontece na entorse
“Durante uma entorse do joelho ou do tornozelo, há um movimento de força angular, uma torção, que força o afastamento dos dois ossos da articulação”, esclarece, acrescentando: “Esta força pode provocar uma rotura dos ligamentos, uma rotura (habitualmente parcial) dos tendões ou, ainda, uma lesão dos meniscos ou da cartilagem.”
Para Francisco Guerra, é importante as pessoas entenderem estes conceitos para que possam, com “esta pequena informação, analisar muitas das pequenas lesões que ocorrem durante a prática desportiva”.
3 cenários para o joelho
► Se o atleta recebe uma pancada no joelho e esta não é acompanhada de qualquer entorse, poderá deixar este processo resolver-se sozinho, desde que consiga andar normalmente e tenha uma mobilidade normal. Pode treinar se as queixas forem mínimas.
► Se ocorrer uma entorse ligeira do joelho, faz sentido interromper o treino desportivo durante alguns dias. Após esse período, pode retomar-se progressivamente a prática desportiva se as queixas se resolverem e a mobilidade articular for normal, tendo o cuidado de se evitar novas entorses durante seis semanas.
► Se ocorrer uma entorse grave, com um grande inchaço, dificuldades em andar e em mover o joelho, deve-se recorrer a um ortopedista. Ele avaliará os ossos (e a cartilagem), os ligamentos e os meniscos.
2 cenários para o tornozelo
► Se ocorrer uma entorse ligeira do tornozelo, sem inchaço e sem dificuldade em andar normalmente, deve-se limitar a prática desportiva durante duas a três semanas. É o tempo necessário para a cicatrização de microrroturas dos ligamentos.
► Se ocorrer uma entorse grave do tornozelo, com inchaço, hematoma e dificuldades em andar normalmente, dever-se recorrer a um ortopedista. Ele fará uma avaliação das estruturas ósseas (e da cartilagem), dos ligamentos e dos tendões. Cerca de um terço de todos os doentes com uma entorse grave do tornozelo tem queixas crónicas.