Em Portugal, estima-se que cerca de uma em cada 11 mulheres vai sofrer de cancro da mama. “São diagnosticados no País perto de 6 mil novos casos por ano, sendo que a prevalência nos homens é de cerca de 1% de todos os cancros da mama”, explica à VISÃO João Martins, especialista em cirurgia plástica, estética e reconstrutiva .
Precisamente por ser um cancro com uma taxa de prevalência grande, e para alertar as pessoas para a importância de se realizarem diagnósticos precoces da doença, outubro é mundialmente considerado o Mês do Cancro da Mama, tendo-se assinalado, a 15, o Dia Mundial da Saúde da Mama. A 30, celebra-se o Dia Nacional de Luta Contra o Cancro da Mama.
Em mulheres com elevado risco de terem cancro da mama, a mastectomia profilática é uma cirurgia que se revela eficaz na sua prevenção. “O risco está associado à existência de familiares em primeiro grau que tiveram ou têm uma história pesada em relação à neoplasia da mama”, esclarece o especialista. Estas mulheres são, normalmente, selecionadas para realizarem um teste genético que identifique os genes diretamente responsáveis pelo cancro da mama e, no caso de os terem, é-lhes aconselhada a realização desta cirurgia. “Uma vez que este gene também está relacionado com o cancro dos ovários, também lhes é aconselhada a remoção de outros anexos, como os ovários”, diz.
A mastectomia profilática também é aconselhada a mulheres que tenham lesões na mama e estejam constantemente a realizar mamografias e biópsias a determinadas lesões suspeitas, mesmo que não tenham nenhum historial familiar.
Sendo o cancro da mama uma lesão no tecido mamário, qualquer remoção desse mesmo tecido reduz o risco de neoplasia, ou seja, de ocorrer uma proliferação celular anormal, excessiva e descoordenada, em cerca de 98%, uma percentagem muito animadora.
Mas as consequências psicológicas que esta cirurgia pode provocar nas mulheres são, em vários casos, graves, garante João Martins. “Uma mulher que realizou uma mastectomia pode sentir-se desfigurada, disforme e incompleta e tudo isso vai ter impacto na sua vida familiar, sexual, social e até profissional”, explica o médico. Por isso mesmo, pode – e deve- recorrer-se à reconstrução mamária, que, normalmente, se realiza no momento da mastectomia, dependendo do tipo de tumor e caso clínico da mulher.
De uma forma geral, a taxa de sucesso desta cirurgia está entre os 90 e os 95%. “Mas não é um processo rápido e acontece, normalmente, em três momentos operatórios”, esclarece João Martins, que refere ainda que esta técnica pode diferenciar-se nos tempos e número de intervenções necessárias. No tipo de reconstrução mais simples, introduz-se um implante mamário à frente ou por baixo do músculo peitoral, no mesmo tempo operatório em que é realizada a mastectomia. Mas também é possível fazer a reconstrução com expansão da pele e, em seguida, introdução de implante. “Neste caso, é colocado um implante expansor não definitivo para expandir a pele, que vai sendo insuflado até existir tecido suficiente para cobrir um implante e proceder à reconstrução da mama” explica o especialista. Existem, também, outras formas mais complexas e para casos específicos, e ainda se pode realizar uma técnica mista, que combina a utilização de tecidos da paciente com a introdução de um implante.
Os benefícios desta cirurgia são sobretudo psicológicos, garante João Martins, mas a nível físico também existem vantagens, além de restabelecer a anatomia normal da mulher . “Em mulheres com mamas maiores, por exemplo, o facto de não terem uma mama vai provocar uma assimetria músculo-esquelética de um lado para o outro, podendo vir a sofrer de problemas a nível da coluna”, esclarece o especialista.
O estigma existe e precisa de ser combatido
Apesar de serem duas das cirurgias mais realizadas no País – porque a prevalência deste tipo de cancro é bastante elevada – continua a existir desinformação e, muitas vezes, insensibilidade em relação a elas, principalmente relativamente à reconstrução mamária, já que é associada a uma cirurgia estética. “Além do impacto físico, é necessário que se comece a compreender cada vez mais o impacto psicológico deste tumor e tudo o que pode ser feito para o minimizar e ultrapassar”, explica João Martins. ” Não se trata de uma questão apenas estética, tudo isto vai influenciar a autoestima, o bem-estar e a qualidade de vida da mulher”.
Além disso, diz o especialista, ainda há mulheres em Portugal a quem não é apresentada a hipótese de reconstrução no seu tratamento. “Muitas delas não sabem das possibilidades de reconstrução que têm e que há soluções para a situação que estão a viver”, afirma.
As duas intervenções podem ser realizadas pelo Serviço Nacional de Saúde e, apesar de João Martins admitir que existem alguns hospitais mais limitados nesta resposta, afirma que, de forma geral, são cirurgias que podem e devem ser realizadas no SNS.
O tratamento desta doença, acrescenta o médico, deve ser efetuado em centros acreditados para o tratamento completo, que possam acompanhar as doentes desde o início do processo. “Parece-me que, dessa forma, seria possível aumentar a taxa de sucesso deste procedimento, bem como a segurança e conforto das pacientes”, diz o médico.
Sobre o Outubro Rosa
O movimento Outubro Rosa foi criado na década de 90, nos EUA, precisamente para consciencializar as pessoas para o cancro da mama e sensibilizá-las para a importância do diagnóstico precoce da doença.
No País, a taxa de mortalidade tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Ainda assim, morrem, todos os anos, 1500 mulheres, daí a importância de sensibilizar as mulheres para a sua prevenção, a partir através da adoção de estilos de vida saudáveis, do rastreio e do diagnóstico precoce. Isto porque, se detetada numa fase inicial, a doença tem 95% de hipóteses de bom prognóstico, de acordo com dados da Direção-Geral da Saúde.
Por todo o mundo, têm surgido campanhas de sensibilização e há marcas que também têm aderido ao Outubro Rosa.